Faltavam poucos minutos para as 9:00 quando o economista, professor, empresário e agora deputado pela Iniciativa Liberal (IL) Carlos Guimarães Pinto entrou na Assembleia da República, para assumir o seu primeiro mandato. Chegou uma hora mais cedo e não precisou do acompanhamento das funcionárias que, na porta lateral do edifício, riscavam as caras dos novatos num folheto e ofereciam orientação. Foi antes Carlos Guimarães Pinto, 38 anos, quem nos guiou pelo edifício, primeiro numa tentativa de encontrar a sua futura sala e depois até ao gabinete da IL, que o partido herdou do Bloco de Esquerda, “sinal de conquista de terreno”, comenta o deputado, no dia de estreia no Parlamento. Depois de ter falhado a eleição em 2019, quando ainda era líder do partido, vem inaugurar o primeiro grupo parlamentar da IL.
“Se me dissessem, há três anos – quando ainda erámos um partido pequeno, com poucos recursos -, que hoje íamos ter um grupo parlamentar com oito deputados, eu não acreditaria. Nas eleições de 2019 [durante as quais liderou o partido, tendo-o o deixado nas mãos de João Cotrim de Figueiredo no final desse ano], não tinha grandes expetativas de ser eleito. Desta vez, eu sabia que seria”, admite, sentado no sofá da nova sala de reuniões e gabinete do presidente João Cotrim de Figueiredo e do líder da bancada parlamentar, Rodrigo Saraiva. O espaço ainda está por decorar; a um canto, na caixa, estão bandeiras do partido e só as televisões todas ligadas nos diferentes canais dão um aspeto habitado ao gabinete.
Apesar de já ter entrado na corrida eleitoral antes, Carlos Guimarães Pinto não fala no cargo de deputado como um objetivo, é antes “uma ferramenta para tornar o país mais liberal” – o seu objetivo número um. E vêm aí tempos desafiantes, nos próximos quatro anos: com a maioria absoluta do PS, admite, “não vamos conseguir cumprir a nossa ambição, mas vamos juntar as ferramentas para que a nossa ambição seja cumprida um dia”.
Tendo em conta a sua formação, está planeado que se dedique às comissões ligadas à economia e os primeiros projetos em que estará envolvido têm por base o “escrutino ao governo, nomeadamente, a proposta de regresso dos debates quinzenais, apresentada em breve, e outra de mecanismos para a fiscalização dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”.
Qual será a prioridade do seu mandato?
“Tornar o país mais liberal. Tenho essa missão pessoal das mais diversas formas, desde a participação na sociedade civil, através da produção de conhecimento, até à intervenção política”.
Carlos Guimarães Pinto nasceu em Espinho, mas vive no Porto e é lá que quer continuar a viver, garante, em conversa com a colega de bancada Patrícia Gilvaz (também do Porto), enquanto esperam na fila para o salão nobre, onde está montada a receção aos deputados. O plano, para já, é passar três dias na Invicta – sábado, domingo e segunda (dia dedicado ao contacto com os cidadão e em que terá também reuniões semanais na extensão do gabinete parlamentar da IL no Porto) – e só chegar a Lisboa na terça-feira de manhã, onde ficará até sexta. Quer vir mais vezes de comboio do que de carro e ainda está indeciso sobre onde vai morar na capital. Alugar uma casa “em Lisboa é tão caro, que é possível que fique num hotel”.
A ideia de viver num hotel não lhe é desconhecida, nem desconfortável. “Já fiz isso durante alguns anos, noutros países. Quando era consultor de empresas passava muito tempo fora da minha zona de residência, a viver em hotéis. Durante uns meses vivi no Dubai, mas ia, quatro dias por semana, para o Quénia”, conta. A única coisa que o massacrava, nesses tempos, era… a burocracia. “No Quénia, tinha de preencher sempre um formulário de chegada, que não era do visto, era uma coisa que eles amontoavam logo e para a qual nem sequer olhavam. Preenchi tudo bem durante seis ou sete semanas, depois comecei a testar os limites daquilo: comecei a pôr como morada Antártida e como nome Super Homem ou Mickey Mouse”.
“Sou visceralmente liberal e tenho uma aversão enorme a burocracia. A quantidade de multas que eu já tive de pagar por não perceber todas as burocracias que tinha de fazer… se vocês não estivessem aqui acho que me enviariam uma multa para a semana por ter faltado [ao preenchimento dos documentos dos deputados, que decorrem durante esta semana]”, continua. Durante o tempo que está na fila, antevê que não vai terminar o processo – “vai passar-se alguma coisa”, promete. Foi salvo pelo toque da campainha para a primeira sessão plenária da legislatura, faltava-lhe ainda tirar um retrato.
A primeira bancada parlamentar da IL
De um passam a oito. Foram eleitos pelos círculos de Lisboa, Porto, Braga e Setúbal e trata-se sobretudo do núcleo chegado de Cotrim, 60 anos, que para além de ser o único já com assento parlamentar será também o deputado mais velho da IL. Estes são os elementos do primeiro grupo da partido na Assembleia da República:
Carla Castro
Lisboa
Economista, coordenadora do Gabinete de Estudos da IL
Trabalhou na área dos seguros e, desde 2019, que estava a dar assistência a Cotrim de Figueiredo no gabinete do partido na AR, sendo da sua autoria parte das propostas que a IL apresentou no Parlamento, mas esta é a sua primeira experiência enquanto política.
Rodrigo Saraiva
Lisboa
Ex-chefe de gabinete de Cotrim, líder parlamentar da IL
Esteve na fundação do partido e geria, até então, a comunicação da IL. A política não é uma novidade para si: foi secretário-geral da Juventude Social Democrata e vereador na Câmara de Lisboa com os pelouros dos Serviços Gerais e da Juventude, entre 2005 e 2008. Nas Legislativas de 2015, foi candidato do MPT por Lisboa.
Bernardo Blanco
Lisboa
Gestor de projetos, ex-assessor de comunicação da IL
Considerado uma das promessas do partido. Tem 26 anos e já trabalhava no gabinete parlamentar da IL como analista e assessor político. É vogal da comissão executiva do partido.
Carlos Guimarães Pinto
Porto
Ex-líder da IL, fundador do Instituto +Liberdade
Eleito para o Parlamento à segunda tentativa, é economista de formação e investigador e professor de profissão. Foi líder do partido entre 2018 e 2019 e, há um ano, criou, com Adolfo Mesquita Nunes e Jorge Moreira da Silva, o instituto +Liberdade.
Patrícia Gilvaz
Porto
Presidente da Associação de Estudantes de Direito da Univ. do Porto
É a segunda deputada mais jovem desta legislatura. Está a terminar o estágio de advocacia e coordena o núcleo do partido de Matosinhos. Nas Autárquicas, foi cabeça de lista à União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo.
Rui Rocha
Braga
Advogado, gestor de recursos humanos na banca e na indústria
Está ligado ao grupo Sonae e já representou várias vezes a IL em encontros com o Governo ou nas reuniões do Infarmed.
Joana Cordeiro
Setúbal
Gestora de marketing, fundou os núcleos da IL em Setúbal e no Seixal
Também repetiu a candidatura pela IL às legislativas, sendo que em 2019 ia como independente. Deu nas vistas com o seu trabalho em Setúbal e no Seixal.