António Costa vaticinou, nesta segunda-feira à noite, em entrevista à RTP, que “depois destas eleições [legislativas] nada será como antes”. O que queria dizer com isso? A Geringonça “acabou indiscutivelmente”. Pelo menos, com “esta fórmula”, porque o primeiro-ministro diz-se disponível para continuar o diálogo com o PCP e o Bloco.
Se for preciso negociar com os antigos parceiros à esquerda, António Costa conta que o eleitorado penalize o comportamento que tiveram agora e dê força ao PS, reforçando a sua capacidade negocial. “Se não tiver a maioria para poder governar sozinho, o PS pode ser claramente reforçado e isso implica que os nossos parceiros à esquerda sejam obrigados a refletir”, explica. “Há uma coisa que eu sinto: algumas pessoas votaram PCP e BE em 2019 para dar força à Geringonça sem votar PS, por causa do papão da maioria absoluta, e muitas estão arrependidas”, afirma.
Disponível para ouvir todos, António Costa insiste, no entanto, que o “referencial da estabilidade é o PS” e que a maioria expressiva socialista seria meio caminho andado para a uma gestão sem ondas do País. “Já governei uma Câmara com maioria e sem maioria, e o António Costa foi sempre o mesmo. A única coisa que mudou foi a forma como os outros se relacionavam comigo”, garante.
Negociar à direita do PS não está fora de questão, mas só poderia acontecer “depois de eles arrumarem a casa”.
Pelo contrário, se o partido do Governo perder a cadeira do poder no dia 30 de janeiro, Costa admitiu que deixa a liderança do partido. “Não ficaria na liderança e isso significaria abrir um novo ciclo de governação”, sublinhou.
“Não ficaria na liderança [do PS] e isso significaria abrir um novo ciclo de governação”
Já perante a solução encontrada pelo Presidente da República para enfrentar o chumbo da proposta do Governo para o Orçamento do Estado para 2022 na fase da generalidade (dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas), o chefe do Executivo mostrou-se solidário com Marcelo Rebelo de Sousa. “Não é possível apontar o dedo ao Presidente da República”, disse, acusando os partidos à sua esquerda de terem deixado Marcelo sem outra hipótese.
Mais uma vez, Costa garantiu que tudo fez para evitar a crise política e lamentou que o debate tenha sido “morto à nascença”, por o BE e o PCP não terem permitido que a proposta orçamental seguisse, pelo menos, para a fase de especialidade e para a votação final. No entanto, questionado pelo jornalista António José Teixeira sobre se o Governo teria cedido, um pouco que fosse, às exigências da esquerda se o debate prosseguisse, o primeiro-ministro acabou por admitir que nos temas-bandeira “dificilmente haveria” margem. É o caso do salário mínimo nacional, que o Governo propõe que suba para 705 euros, em janeiro, e não vê forma de o valor ser mais elevado do que este, sem comprometer a estabilidade das empresas.
“Acho que fomos ao limite dos limites”, defende Costa.
Aumentos extraordinários prometidos para depois das eleições
O primeiro-ministro aproveitou ainda a conversa para começar a campanha para as Legislativas e deixou já a sua primeira promessa: caso o PS vença, os aumentos extraordinários descritos na proposta do Orçamento serão executados com retroativos a 1 de janeiro. Referia-se aos dez euros para os pensionistas que recebem até 1097. Isto porque, defendeu, “não devemos fazer tudo o que tem natureza extraordinária”.
Já a subida do salário mínimo nacional para 705 euros e a atualização dos salários da função pública deverão entrar em vigor – tal como previsto – no primeiro dia de 2022.