Quem trabalhou com Sebastião Bugalho diz que ele é cheio de si, mas foi esta confiança que o fez dar nas vistas. Primeiro nos jornais, depois na televisão, até chegar à Assembleia da República. Nas Legislativas de 2019, foi a sexta escolha de Assunção Cristas para a lista do CDS pelo círculo de Lisboa. Passaram-se dois anos e o convite materializou-se num lugar na bancada centrista, que recusou. Tem 25 anos. É colunista do Diário de Notícias e comentador da TVI.
Já havia data para a tomada de posse: a próxima segunda-feira. E, para o grupo parlamentar do CDS, o nome de Sebastião Bugalho era dado como certo para substituir a deputada Ana Rita Bessa, ao ponto de já ter seguido em comunicado para as redações. Mas, 48 horas depois de Telmo Correia, o líder da bancada parlamentar centrista, ter feito o convite, Sebastião Bugalho (até aqui em silêncio) recusou-o, justificando a decisão com “circunstâncias políticas (do CDS) e profissionais”.
Numa nota enviada à Visão, Sebastião Bugalho explica que já informou Telmo Correia da sua indisponibilidade para ocupar o lugar. Apesar de se declarar “honrado” e de dizer que expressou ao líder parlamentar o seu “profundo respeito pelo parlamento, pela história do CDS-PP e pelo seu grupo parlamentar”, o colunista reitera que aceitou integrar a lista do CDS “noutra circunstância, com outra direção”. E que o que o separa da forma como Francisco Rodrigues dos Santos tem conduzido o partido não se “aparentam conciliável”.
Sebastião Bugalho foi convidado por Assunção Cristas para integrar, como independente, a lista do CDS pelo circulo de Lisboa às Legislativas de 2019. Com a saída de Ana Rita Bessa o lugar foi oferecido ao quinto elemento da lista – Isabel Galriça Neto, médica e ex-deputada. No entanto, Galriça Neto recusou voltar ao Parlamento – explicou à Rádio Observador – por “razões pessoais” e por pretender assumir o seu lugar na Assembleia Municipal de Lisboa, para onde foi eleita pela Coligação Novos Tempos. E o partido virou assim as atenções para Sebastião Bugalho.
Quem é Sebastião Bugalho?
A política sempre lhe mereceu interesse, assim como ter um papel ativo na sociedade. “Eu sempre tive pressa, sempre quis fazer coisas”, disse, em entrevista à TVi, este ano, apontado a seguir que uma das mais-valias de Portugal era precisamente permitir aos mais jovens participarem, dando-lhes oportunidades para serem uma voz ativa.
Filho de dois jornalistas, que se conheceram a trabalhar no extinto Independente — João Bugalho e Patrícia Reis, editora da revista Egoísta —, Sebastião Bugalho começou a sua carreira no mesmo meio. Tinha 19 anos, quando passou a escrever crónicas no jornal I.
Nos primeiros anos da faculdade — no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, a estudar Ciência Política — conciliava as aulas com o estágio no I e no Sol. Escrevia sobretudo sobre política, tendo entrevistado o ministro Pedro Nuno Santos, a ministra Graça Fonseca, Rui Moreira, Francisco Rodrigues dos Santos e André Ventura. Acabado de chegar ao mundo do jornalismo, era já “um jovem cheio de si, com uma confiança superior à de Jorge Jesus”, nas palavras do diretor-executivo do I, Vítor Rainho, publicadas no jornal num trabalho sobre Bugalho.
Mas não demorou a suspender a carteira profissional. “Acho que é muito difícil ser jornalista, tenho imenso respeito a quem ainda é. Não é só dormir mal e comer as más horas, é mais do que isso – é o esforço, é uma coisa constante, 24 horas por dia, em todo o lado”, dizia, numa entrevista ao Jornal Económico, em 2018. Manteve-se, no entanto, na imprensa como colunista, primeiro no Observador, e mais recentemente no Diário de Notícias. O que concilia com o comentário político na televisão, semanalmente, na TVI 24, num programa com Sérgio Sousa Pinto e Filipe Santos Costa.
Ganhou relevo suficiente como comentador para o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o ter convidado para um almoço, no verão passado, onde também estavam José Manuel Fernandes, António Carrapatoso, Duarte Shmidt e João Carlos Espada para falarem sobre as preocupações da direita. “Marcelo quis ouvir-me, porque sou muito bom”, justificou, mais tarde.
Já lhe chamaram “prodígio”, mas o seu percurso também tem espinhos. Sebastião Bugalho é suspeito num inquérito aberto na Divisão de Investigação Criminal da PSP pelo crime de violência doméstica, noticiado pela revista Sábado em março de 2021.
Artigo atualizado às 14:40 com a nota de Sebastião Bugalho a recusar o lugar no Parlamento