Há vários motivos para os jovens entrarem num partido político. No caso de Inês Rodrigues, que tem apenas 18 anos mas já é candidata da CDU às eleições legislativas pelo círculo de Braga, o interesse pela juventude partidária nasceu durante uma das várias ações do partido comunista na sua escola. “Recebi um documento, li-o, discuti-o um bocadinho, e fui a um congresso da Juventude do Partido Comunista Português. Foi aí que me inscrevi”, explica, admitindo, no entanto, que houve alguma influência familiar, uma vez que o pai já era militante.
O contexto familiar de Pedro Loução também o “empurrou” para um partido, não por existirem exemplos de intervenção política, mas pelos seus relatos de abusos e discriminação. “Comecei a interessar-me por política quando ouvi as histórias da minha mãe sobre como tinha sofrido sempre de racismo, tanto no local de trabalho como na escola. Sentia-me inconformado com o estado das coisas, principalmente pela história da minha mãe. Comecei a pesquisar sobre os partidos políticos na internet e identifiquei-me com o Bloco [de Esquerda]”, conta o jovem de 16 anos.
Gaspar Macedo já tem 19 anos, mas juntou-se ao PSD com apenas 16. “Eu não quis passar a minha vida inteira a reclamar. Se as pessoas não gostam de como as coisas estão a ser feitas, então porque é que não se candidatam e tentam mudar aquilo que acham errado?”, interroga.
Com 20 anos, Diogo Vintém também ingressou numa juventude partidária com o objetivo de mudar o panorama político. “Juntei-me [à juventude socialista] na sequência das políticas levadas a cabo pelo governo da coligação PSD-CDS, com as quais não concordava”, explica.
No caso de Rafael Pinto, o mais velho dos nossos “jotas”, a atividade partidária começou um pouco mais tarde, quando descobriu o PAN. “Até lá não tinha conhecido nenhum partido que me tivesse dado vontade de filiar”. Apesar de ter tido sempre bastante interesse por política, o agora cabeça de lista nas legislativas para Braga não se identificava com os “partidos tradicionais, com a sua forma de ser, com os próprios políticos e a sua forma de pensar”.
Afinal, estes Zs ainda acreditam nos partidos “tradicionais”?
Apesar de todos fazerem parte de uma estrutura partidária, nenhum dos Zs consegue afirmar, com certeza, que confia nos políticos mais velhos. Gaspar (JSD) fala num “excesso de políticos de charneira”, e em “engravatadinhos que estão há décadas a fazer a mesma coisa mas, no fundo, a não fazer nada”. Apesar disso, afirma: “não caí no erro de me queixar e não fazer nada. Então, entrei para a política e hoje estou num partido tradicional mas com liberdade de expressão interna. Se acho que alguma coisa está mal ou devia ser feita de maneira diferente, eu falo”.
Pedro Loução confessa (BE) que demorou “um bocadinho a assinar a folha do partido”. “Pensei duas vezes… acho que nós, jovens, temos algum medo dos partidos e de política, porque achamos que é uma coisa super séria”. Agora, já não pensa assim. “É importante o movimento social, estar nas ruas. Mas também é importante estar na política, mudar a política por dentro. É importante pertencer a um partido porque ele é uma ferramenta para conseguirmos mudar aquilo com que não concordamos”.
Para o candidato do Partido Pessoas-Animais-Natureza, “há uma desconfiança enorme e falta de credibilidade dos políticos, em geral”. Contudo considera que as pessoas que se juntam ao seu partido são diferentes pois preocupam-se verdadeiramente com as causas que defendem: “Estão aqui para lutar por um mundo melhor e têm um sistema de prioridades absolutamente diferente do tradicional”. Rafael Pinto vai mais longe e defende que o PAN “veio revolucionar o sistema político”
Diogo Vintém, da juventude socialista, admite que quando os casos de corrupção acontecem dentro do partido, existe um sentimento de traição: “Mas daí a perder a confiança no partido ou nas milhares de pessoas que trabalham connosco todos os dias…” O jovem é o único que não concorda que os Zs têm uma opinião negativa da política, “creio que é precisamente o contrário”.
Os famosos “tachos” e outros preconceitos
“Há sempre aquela crença de que os jovens estão aqui [nas juventudes partidárias] para fazer carreira”. Inês, da JCP, admite que no ínicio também ela tinha alguns preconceitos. No entanto, conta-nos que rapidamente percebeu que não era essa a forma de estar dos militantes jovens do seu partido.
Rafael Pinto também não poupa nas críticas às outras juventudes partidárias mas defende que no PAN “é absolutamente diferente”. “Tradicionalmente, as juventudes partidárias são compostas por filhos de quem já está envolvido nesses partidos. O grande problema nas juventudes partidárias é que como entram através dos pais ou de conhecidos, muitas vezes nem sequer estão de acordo. Um jovem deve-se juntar a um partido com os valores em que acredita, e não simplesmente porque conhece lá alguém ou porque está à procura de um emprego futuro”.
A ideia da má reputação das juventudes partidárias é partilhada por vários adolescentes e adultos. Um preconceito que desvaloriza o trabalho destes jovens e talvez mantenha afastados outros possíveis interessados. “Até no que diz respeito a esta entrevista, sinto que as pessoas vão olhar para isto e dizer: ah é o Pedro Loução a querer protagonismo. Mas não, e nem quero um lugar no Parlamento”, explica o jovem do BE. Desde que começou a sua atividade política, já lhe disseram várias vezes que escolheu o partido errado porque talvez outros lhe dessem mais oportunidades profissionais. “Mas não é isso que quero para a minha vida”, explica. “Os jovens podem seguir as suas paixões e interessarem-se por política na mesma, as duas coisas juntas funcionam, porque a política não é só para os políticos, é para toda a gente”.
Gaspar Macedo (JSD) vai mais longe, e revela que, além de existir “um preconceito contra os partidos e em especial contra as juventudes [dos partidos]”, mesmo dentro das estruturas partidárias, é difícil para os mais novos verem o seu trabalho reconhecido. “O trabalho que temos de fazer dentro das estruturas partidárias, para convencer as pessoas de que os jovens não são desinteressados… é um problema, o sistema está tão fechado!”
O que queremos? Oportunidades! E quando queremos? Já!
“As pessoas querem ver as novas gerações a liderar o país. Há espaço para os jovens na política e acredito que até deveria haver muito mais. Se não há mais [espaço] não é por causa dos jovens, mas sim daqueles que insistem em fechar o sistema”, defende o social democrata. “Os jovens não têm desinteresse, aquilo que os jovens não têm é oportunidades”, acrescenta.
Segundo Inês, que se desloca frequentemente às escolas com o partido comunista, “os jovens sentem a necessidade de serem ouvidos”. Ainda assim, a idade não é um posto, nem para os mais velhos, nem para os mais novos: “Não é por ter 40 anos, que um dirigente é menos moderno e menos progressista que um de 20 anos. Ser jovem é muito bom, mas o importante é ser capaz e sentir-se capaz.”
O jovem do partido socialista não considera que exista um problema de representação das gerações mais novas. “Não me parece que esse seja um problema do nosso sistema político. Em Portugal temos quase duas dezenas de partidos a concorrer às eleições”, afirma.
Mas, Pedro (BE) discorda: “Eles [os jovens] sentem que os partidos não os representam. Têm medo da política” e, Rafael (PAN) também: “Quando olhamos para um político, não sentimos que ele nos esteja a representar, porque não nos identificamos. É preciso pôr jovens na linha da frente dos partidos”.
O militante do partido social democrata fala na necessidade de “uma mudança paradigmática nos partidos” para combater a tendência desta “geração ser empurrada para os extremos”, algo que “tem de vir das juventudes partidárias, se não teremos um futuro muito negro”. Os Zs “são mais tolerantes para umas coisas mas também estão mais polarizados”, e podemos “acabar como o Brasil ou os Estados Unidos”, considera.
Dicas para os colegas mais velhos
“O que os partidos podem fazer é comprometerem-se com os jovens e usarem ao máximo os seus meios para cumprirem os compromissos”, diz Inês (JCP). Gaspar (JSD) aconselha os políticos a “discutir os temas com seriedade”. “É importante passar uma mensagem mais humana e as redes sociais contribuem para isso, aproxima as pessoas. As redes sociais muitas vezes são vistas como um problema, mas são um sintoma do problema, porque são a prova de que as pessoas já não confiam na política”, conclui.
Diogo (JS) sublinha a importância de mudar o sistema de ensino. “Os jovens não vão votar porque estão desinformados. As nossas escolas estabelecem uma barreira entre a política e a educação e acho que não a devem colocar. Combater a abstenção passa por aí”. No entanto, não são só as escolas que precisam de mudanças estruturais, diz o candidato do PAN: “É preciso que os partidos políticos tenham coragem de se modernizar na sua forma comunicar, mas também modernizarem-se dentro das suas próprias estruturas”. “Não vale a pena perder tempo com politiquices, com coisas corriqueiras, fofocas, isso não vai levar a lado nenhum. Aquilo que vimos nas últimas eleições europeias na maior parte dos debates televisivos não pode acontecer”.
Pedro (BE) é claro: “Discutam política real!” Com apenas 16 anos, o bloquista acredita que o segredo para atrair mais jovens é “não fazerem com que a política seja uma carreira”. “Mesmo dentro dos partidos eles querem é subir e tornarem-se mais importantes. Têm de ouvir as pessoas e ter mais atenção às pessoas, para saberem o que é que a população precisa. Quando somos eleitos temos de ter a consciência de que é uma função pública e que estamos a representar os outros, não a nós mesmo, nem os nossos interesses”.