Assunção Cristas quer que o CDS deixe de ser o partido “dos ricos”, “dos patrões” e “dos quadros“. A Juventude Popular (JP) entende que o partido deve ser o líder de uma “direita que conquista o centro, que lhe concede identidade e sabe imprimir-lhe rumo” e não pertencer a um “centro que torna conta da direita, a descaracteriza e neutraliza.” Enquanto a presidente centrista aponta a mira a bandeiras tipicamente do centro-direita e defende um partido mais interclassista, que comece a virar ao centro, tornando-se mais pragmático, a JP prefere que o partido marque a diferença através da sua ideologia.
À VISÃO, o líder da jota, Francisco Rodrigues dos Santos, começa por explicar que “a ideologia e o pragmatismo não são vetores antagónicos.” No entanto, esclarece que a visão da estrutura que dirige é a de que “a ideologia ou a doutrina é que permitem o pragmatismo e não o contrário.” A perspetiva defendida pela JP é oposta àquela que Assunção Cristas reclama na sua moção. Ambas vão serão avaliadas pelos congressistas no 27º Congresso do CDS, que acontece nos dias 10 e 11 de março, em Lamego.
“A riqueza do CDS passa por agregarmos várias visões”, argumenta Francisco Rodrigues dos Santos, que recusa que a moção da Juventude Popular seja vista como uma resposta à apresentada pela líder do partido: “é apenas o nosso entendimento daquilo que deve ser a linha do partido.” O documento foi escrito sem que os seus redatores conhecessem a moção da presidente centrista e, também por esse motivo, o líder da jota nega qualquer constrangimento por levar aos militantes do partido uma visão diferente, “dentro da autonomia da JP”, e do “pluralismo” do partido. “Recusamos aderir ao relativismo que diz que a única convicção que se pode ter é não possuir convicção alguma”, resume.
Numa longa moção, intitulada “Da JP para o País”, a Juventude Popular apresenta propostas para diversas áreas que vão da Economia à Europa passando pelo trabalho jovem e a precariedade. Dedica ainda um capítulo em exclusivo à Eutanásia – ou ao “homicídio a pedido da vítima”, como se define no documento. A ambição de virem a tornar-se a alternativa de centro-direita vai ao encontro do que Cristas apregoa na sua moção, mas os jovens centristas são mais acutilantes nas críticas ao PSD: “os portugueses terão que decidir se preferem votar num partido que embora apresente não professa os valores a que o centro-direita tem direito (…) ou se, por outro lado, se deixam convencer pela virtude da proposta do CDS-PP.”
No final, e em jeito de conclusão, os jovens centristas dirigem-se diretamente ao CDS, a quem pedem “que saiba integrar os quadros mais valiosos e promissores que a sua jota for capaz de formar, provendo-lhes o destaque e o protagonismo que merecem.” Depois da exigência, os elogios: “[a JP] vê no CDS-PP o seu referencial de militância poltico-partidária.” Embora o compromisso com o partido e com Assunção Cristas esteja vertido nas 43 páginas que compõem a moção há uma demarcação clara da linha que a líder quer seguir no próximo bienio. Intencional ou não, a diferença entre jota e partido existe. “Mas isso é positivo”, garante Francisco Rodrigues dos Santos.