Rui Rio assumiu esta noite o lugar de 18.º presidente do PSD com um aviso sem meias palavras a António Costa: com ele na liderança, a hipótese de bloco central “não existe nem existirá”.
Num discurso de mais de 40 minutos, o sucessor de Pedro Passos Coelho afastou o fantasma que pairava sobre grande parte dos sociais-democratas, e que já motivou várias críticas internas. “Não é, aliás, fácil de entender a lógica das declarações de dirigentes do PS e dos outros dois partidos da extrema-esquerda, quando se apressam a referir que a coligação parlamentar está segura e que não há qualquer hipótese de um bloco central. Perdem tempo com o que não existe nem existirá”, atirou o novo líder, naquela que foi a declaração mais aplaudida da sua intervenção.
Perante os cerca de mil congressistas, ainda ressentidos com a manobra de António Costa após as legislativas de 2015, Rio notou que os socialistas se esquecem “do mais óbvio”: que não ganharam as eleições e “que, em nenhuma outra circunstância, o PS pode liderar um Governo, em face dos resultados” que permitiram a formação da denominada geringonça.
Para Rio, a plataforma de esquerda governa “à vista”, “cede à sua clientela” e apenas a gestão do dia a dia assegura a “segurança” dessa maioria. Uma segurança, sustentou, que, “em vez de cimento armado”, resulta de “cartão e cola”, escondendo “toscamente as deficiências que quotidianamente se agravam”.
Dando sinais de quer reunir e pôr fim às divergências internas, Rio assumiu o legado de Passos Coelho, a quem endereçou “uma palavra de apreço e gratidão”, tal como elogiou a “humildade democrática” de Santana Lopes que consigo disputou as diretas de 13 de janeiro. “Parte da minha vitória é, também, do Pedro Santana Lopes e daqueles que estiveram de forma digna e sincera com a sua candidatura”, apontou.
Já na fase final da intervenção que levava escrita, Rio elencou algumas das suas prioridades caso seja chamado a chefiar um Executivo: quer reformar o sistema político – que considerou “uma tarefa gigantesca” -, a justiça – despolitizando-a -, e descentralizar, desconcentrar e combater as assimetrias regionais, nomeadamente entre litoral e interior.
Pelo meio, deixou ainda alguns recados virados para dentro, isto é, para o próprio partido, que tenciona ver novamente mais próximo dos portugueses. E deu um exemplo: quer colocar um ponto final aos “vetos de gaveta à entrada de novos militantes”. Mas, igual a si próprio, assegurou que quer mais transparência, mais credibilidade e “contas partidárias equilibradas” – num claro remoque ao PS, que vive tempos de dificuldade financeira.