Gaia, Porto, Trofa, Gondomar, Maia, Paredes e Lousada (distrito do Porto), Lisboa, Oeiras e Cascais (Distrito de Lisboa), Famalicão, Vila Verde e Braga (distrito de Braga), Aveiro e Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro) e Madeira são as estruturas locais e regionais do PSD cujo peso eleitoral determinará, com alta probabilidade, o próximo líder do partido, nas eleições diretas a realizar a 13 de janeiro do próximo ano. Se a máxima “um voto, um militante” fosse uma verdade absoluta, estas contas não seriam para aqui chamadas. Pelo menos com esta dimensão, vá. Nesse mundo ideal, as histórias de pagamentos de quotas em massa por parte dos mais variados caciques em diversas regiões seriam apenas matéria de ficção. Ora, como se sabe, não é o caso. Sabendo-se da influência e do “peso” eleitoral de determinadas figuras ligadas aos aparelhos partidários, o próximo presidente do PSD será decidido em função da liberdade individual, sim, mas também da habitual capacidade de diversos dirigentes e personagens para arregimentar votos.
Um dos territórios onde Rui Rio e Pedro Santana Lopes deverão disputar, à unha, o voto dos militantes é a norte, no distrito de Braga, cuja capital foi a escolhida para a realização das jornadas parlamentares do partido, na próxima semana (30 e 31 de outubro). Na candidatura do ex-autarca do Porto a notícia foi recebida com sorrisos irónicos ou não fosse a maioria dos membros da atual direção do grupo parlamentar simpatizante da opção Santana Lopes, soube a VISÃO. O próprio líder parlamentar, Hugo Soares, também presidente da concelhia de Braga, garantiu que, na disputa interna, apoiará quem defenda a herança de Pedro Passos Coelho, declarações que foram interpretadas como uma notória inclinação para o agora ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Em Braga, porém, ainda existem muitas contas por fazer. “Neste momento, o cenário é este: a maioria dos dirigentes concelhios inclina-se para Santana Lopes, mas uma grande parte dos militantes, sobretudo aqueles com menor ligação às estruturas, prefere Rui Rio”, referiram à VISÃO fontes da direção distrital “laranja”. Ricardo Rio, o presidente da Câmara, apoia o seu homónimo. Em Famalicão, a maior concelhia do distrito, a inclinação de Paulo Cunha, autarca e líder da estrutura local, só será conhecida depois da reunião da comissão política distrital alargada desta quinta-feira, 26. “Tenho uma relação próxima com Rui Rio e sinto uma empatia por Santana Lopes, de quem já fui apoiante, mas só tomarei uma decisão no final desta semana”, explicou à VISÃO o atual presidente da Câmara. No concelho, contudo, há ainda que contar com o peso de Fernando Costa, histórico do PSD local, filho do antecessor de Paulo Cunha no município e rosto de várias empresas na área do calçado e do imobiliário. Na versão suave, o empresário é apontado como especialista a influenciar o voto de milhares de militantes. Na versão hardcore, há quem garanta que é ele quem paga quotas a fornadas de militantes, muitos dos quais seus empregados, quando se trata de eleições internas. A VISÃO tentou que fosse o próprio a esclarecer estas versões, mas ele não respondeu aos diversos contactos efetuados e mensagens enviadas.
Em Vila Verde, o presidente da concelhia, Rui Silva, já declarou o apoio a Rui Rio, apesar de, no passado, ter escolhido Santana Lopes. “É uma posição individual, em nada compromete a estrutura”, explicou à VISÃO, sem deixar de justificar a sua opção. “Pura convicção. Estou sobretudo preocupado com o meu País e o que precisamos é de um líder e primeiro-ministro com a credibilidade de Rui Rio”, explica. Já o eurodeputado José Manuel Fernandes, atual líder distrital, tornará pública a sua escolha individual nos próximos dias: “O que lhe garanto é que o distrito, ganhe quem ganhar, acabará unido”, refere, destacando o facto de haver muitos militantes indecisos. “Como a campanha vai ser longa e esclarecedora, acredito que até aqueles que já têm uma inclinação possam vir a mudar de opinião. Arrisco dizer que se os militantes votassem já, a maioria escolheria Santana Lopes para presidente e Rui Rio para primeiro-ministro”, assume, com algum humor à mistura.
Incertezas locais
O Porto é um dos distritos onde Rio, que foi presidente da Câmara da Invicta, pode fazer valer a proximidade, mas é cedo para certezas. As concelhias de Gaia (5600 militantes), Porto (4840) e Trofa (4680) são as que têm maior peso, se somarmos os militantes ativos e os atualmente suspensos. Mas estes últimos têm apenas de pagar as quotas em atraso (12 euros por ano) e apresentar um comprovativo de morada para voltar ao ativo. “Acredito que estas vão ser das eleições internas mais livres de sempre”, assume Firmino Pereira, líder da concelhia de Gaia e apoiante de Rui Rio. “Vejo cada vez mais militantes dispostos a pensar pela sua própria cabeça e muito entusiasmados com a possibilidade de Rui Rio chegar à chefia do Governo já em 2019”, resume. “Não creio que a maioria dos militantes se deixe arregimentar e quem o fizer está dar o primeiro passo para a derrota”, garante, entretanto, o deputado Miguel Santos, vice-presidente da distrital, líder da concelhia de Valongo e apoiante de Santana Lopes. “A presença de figuras e rostos conhecidos nas duas candidaturas é natural, mas isso não decide. Para já, ainda estamos numa fase emocional e pouco racional, mas quando as propostas forem apresentadas e os debates começarem, as coisas começarão a ficar mais definidas”, explica o vice-presidente do grupo parlamentar. Debates? Rio recusou o desafio de Santana para confrontar ideias em todos os distritos, perante os militantes, “mas algo terá que acontecer, o contrário seria incompreensível”, adverte Miguel Santos.
Gondomar, Paredes, Mais e Lousada são outros concelhos do distrito do Porto com peso eleitoral significativo no todo nacional. “Noto uma maior inclinação para Santana Lopes, mas ainda é muito cedo para perceber se isso se vai ser uma realidade em janeiro”, resume Agostinho Gaspar, presidente do PSD/Lousada, ele próprio um apoiante do antigo primeiro-ministro. Até ver. “Considero que Santana tem a alma de que o PSD precisa, Rio tem uma imagem demasiado austera, embora seja sério e capaz. Contudo, não posso dizer que a minha decisão seja definitiva. Quero perceber as ideias e as propostas, admito mudar de opinião”, assinala o líder da concelhia com cerca de dois mil militantes, metade dos quais atualmente inativos. “Não estou preocupado com essa situação. Esta disputa interna vai mobilizar as pessoas, até pelo período difícil que o partido está a viver”.
Em Lisboa, o líder interino da concelhia, Rodrigo Gonçalves, apoia Rui Rio, mas Pedro Pinto, presidente da distrital, é um dos homens do núcleo-duro de Santana Lopes. Oeiras (um feudo do “independente” Isaltino, mas com forte influência na concelhia “laranja”) e Cascais (onde o ex-autarca António Capucho, ex-militante e apoiante de Rio, ainda pesa) garantem muitos votos, mas, tal como em todo o distrito, há nuances a ter em conta. Uma delas é o peso de figuras como Nuno Morais Sarmento e Manuela Ferreira Leite, próximos de Rio. “Há 19 mil eleitores em Lisboa, mais coisa menos coisa. Se votarem metade já não é mau”, explica Pedro Pinto, que considera “suficiente” o período de campanha.
Enquanto na Madeira, o líder regional Miguel Albuquerque poderá dar o seu voto a Santana Lopes, do outro lado está o seu arquirrival João Cunha e Silva, ex-vice do governo. Na região autónoma, a contenda Santana/Rio pode, pois, reeditar a guerra dos antigos delfins de Alberto João Jardim.
Em Aveiro, Rio conquistou um trunfo de peso: Salvador Malheiro, líder da estrutura distrital e presidente da Câmara de Ovar, é o seu diretor de campanha. Este território pesa significativamente nas contas finais, sobretudo pelos votos oriundos de Aveiro e Santa Maria da Feira. Não foi por acaso que Rio se lançou à liderança do PSD a partir da capital daquele distrito. O mesmo aconteceu com a escolha de Santarém por parte de Santana Lopes ou não fosse aquela a geografia partidária por excelência de Miguel Relvas que, pelo menos na sombra, diga-se o que se disser, já está mesmo de regresso. E para ficar.