“O que está em causa na Catalunha é a liberdade de expressão e de reunião dos catalães.” É desta forma que Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda, entende a polémica em torno da realização de um referendo sobre a independência da Catalunha. O dirigente bloquista falava num comício do partido, ontem à noite, e dedicou parte da sua intervenção ao apoio aos catalães. A consulta foi considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol mas os responsáveis pela organização do ato eleitoral continuaram a preparar a sua realização de forma unilateral. Esta foi uma atitude que a justiça espanhola entendeu como desobediência da lei. Assim, na manhã desta quarta-feira, 20 de setembro, a Guardia Civil deteve 14 pessoas que estariam a organizar o referendo apesar de ter sido considerado ilegítimo.
O partido espanhol Podemos, homólogo do Bloco de Esquerda, diz que estas detenções são políticas. Críticas que encontram eco nas palavras do historiador Fernando Rosas: “[as detenções são] um abuso autocrático e antidemocrático do governo do Partido Popular, como sempre, inspirado num nacionalismo agressivo, insolente, diretamente bebido das mais sinistras tradições da ditadura franquista.” Palavras duras mas que rimam com as que têm sido proferidas pelo líder do Podemos, Pablo Iglesias.
Opinião diferente é a do CDS-PP. O deputado Pedro Mota Soares, em declarações à VISÃO, não quis tomar nem o lado do governo espanhol nem o lado dos independentistas mas lembrou que “em Espanha há um quadro de direito democrático que deve ser respeitado”. O ex-governante centrista recordou que Portugal e Espanha mantiveram sempre boas relações, recusando tecer qualquer comentário que pudesse ser interpretado “como uma ingerência”. Afirmou ainda que o CDS condena “todas as práticas que sejam consideradas ilegais dentro do quadro de direito democrático” espanhol.
Já o deputado socialista Paulo Pisco considerou que a situação que se vive na Catalunha “é complexa” mas afirmou que acima de tudo está “a necessidade de respeitar a consituição”, não se pronunciando sobre se as detenções levadas a cabo pela Guardia Civil foram ou não excessivas. À VISÃO, disse apenas que “tudo deve ser interpretado no quadro legal espanhol”, lembrando que um dos princípios básicos na legislação de Espanha é “a unidade do território.” Paulo Pisco não nega que exista a necessidade de discutir um eventual referendo sobre a independência mas considera que, a existir uma consulta desse tipo, “deve acontecer uma coisa semelhante àquela que aconteceu no Reino Unido” quando se referendou a independência da Escócia – que terminou com a vitória do “não”.
O PSD, homólogo do partido que está no poder em Espanha – o PP –, não quis “tomar uma posição para já”. A VISÃO tentou ainda estabelecer contacto com o PCP de forma a perceber qual a posição dos comunistas portugueses perante esta situação mas até ao momento não obteve qualquer resposta. Recorde-se que o movimento Izquierda Unida, do qual faz parte o Partido Comunista Espanhol, condenou de forma veemente as detenções de quarta-feira e apelou à participação de todos os espanhóis em manifestações de protesto contra a atuação da administração central de Espanha.