Tudo começou com uma reportagem publicada no site da VISÃO. Júlio Vasco Batista, topógrafo de profissão, leu a história de como o colega Marcos Freitas havia perdido, com os incêndios que assolaram a Madeira, a “estação” com que ganhava a vida e não conseguiu ficar indiferente. Pegou no link e colou-o na página (privada) do Clube dos Topógrafos, no Facebook. Sobre a imagem de Marcos e a sua mulher, Cristina, Júlio partilhava, com os restantes membros do clube, a triste sina de “Um colega nosso da Madeira, prejudicado pelo fogo”, rematando com um “Força companheiro!”
Foi quanto bastou. Tal como o fogo, a notícia correu depressa, entre os mais de 1400 membros do clube. “Chamem o homem [para o fórum] que eu empresto-lhe uma estação”, foi a primeira ideia, lançada por Luís Pinto. Rapidamente se evoluiu para uma solução mais definitiva. “10 vezes 500 dá?”, questionava Luís Filipe Oliveira, propondo fazer-se uma coleta. A ideia foi apoiada de imediato por Marcos Santiago, para quem “um bocadinho a cada um não custa nada e quem sabe um dia também podemos ser nós”.
Há estações para todos os preços. A de Marcos Silva, souberam os colegas, era uma “estação total”, de marca Leica, já robotizada, o que lhe permitia trabalhar sozinho, sem precisar de um operador. Custava, imaginam, à volta dos €25 mil.
Dia 16 (dois dias e meio da publicação da reportagem da VISÃO), Miguel Ângelo Pereira entrava na Caixa de Crédito Agrícola de Vila Flor e contava a história ao gerente do banco. Precisava de abrir uma conta a zeros e que ficasse tudo devidamente registado, para que pudesse prestar contas ao fórum, contou à VISÃO. O gerente ficou solidário com a causa – a solidariedade para com um desconhecido – e pediu a Miguel Ângelo para ser o primeiro a pôr dinheiro na conta. Aos seus €20 seguiram-se outros, e até queixas, vinda de Cabo Verde – Júlio Popey Leite dizia-se “tramado para ajudar”, porque o banco lhe pedia “€30 para transferir €50” para a conta. Esta manhã, o clube dos topógrafos já tinha angariado €995 – uma ajuda “para dar a volta e continuar a lutar”.
No Funchal, Marcos Silva ainda anda às voltas com “as coisas do seguro”. Já mandou a papelada toda e aguarda o feedback, para perceber o que vai receber para poder comprar uma estação nova… e recuperar a casa. Se apenas a cozinha e a lavandaria arderam, Marcos e Cristina souberam, depois da peritagem, que a instalação elétrica e de água terá de ser toda nova porque, com o calor das chamas, os tubos derreteram dentro das paredes.
Marcos não desarma. Diz-se agradecido ao clube dos topógrafos e não pára para se lamentar. Quer é fazer planos para o futuro. Em relação à sua estação, aguardará para saber quanto receberá do seguro. A conta do Clube dos Topógrafos estará aberta até 30 de setembro. Com o dinheiro que tiver, logo verá que estação conseguirá comprar.
Em relação ao resto, perspetiva: “Faço anos a 1 de dezembro. A ver se consigo fazer uma festa de anos e a reinauguração da casa” nesse dia.