Carlos Brito, um histórico do PCP, herói de resistência ao salazarismo e, posteriormente, dissidente do partido, por romper com a linha estalinista, nunca testemunhou qualquer ato de Jerónimo de Sousa contra os críticos. “Sempre foi muito correto e ainda hoje tenho relações de amizade com ele.”
Carlos Brito atribui o rótulo de ortodoxo, ou seguidor da linha dura, por parte de Jerónimo de Sousa, pelo facto de ter tido um “grande protagonismo na afirmação do PCP na Cintura Industrial de Lisboa, durante o PREC”. Foi então membro da Coordenadora e elemento ativo nas Comissões de Trabalhadores da Cintura. A verdade é que também nunca se ouviu, da parte de Jerónimo, qualquer palavra pública de simpatia ou conciliação, relativamente aos críticos e aos dissidentes ou qualquer diligência para o seu regresso. Como muitos outros, não deu qualquer passo no sentido da renovação do PCP.
Como lembra Carlos Brito, “Cunhal estava do outro lado” e a sua influência era enorme, sendo o ascendente sobre jovens militantes como Jerónimo, que só aderiu ao partido após a revolução, “um fator muito forte”. Brito não deixa de elogiar o jogo de cintura de Jerónimo de Sousa, na viabilização do atual governo do PS. Também Pacheco Pereira, autor da monumental biografia sobre Álvaro Cunhal – que é, também, uma história do PCP –, nunca ouviu falar de atitudes proativas de Jerónimo na perseguição interna aos críticos. Sobre a sua ascensão, sem passado antifascista, explica-a pelo “meio e pelas circunstâncias”.
A sua condição operária e o reconhecimento junto dos seus pares, num meio onde o PCP precisava de se manter forte, fez com que o partido “confiasse nele”. Muito atingido pela emigração ou pela fuga de quadros, nomeadamente sindicais e universitários, para o MES, a extrema-esquerda ou o PS, o PCP tinha em bastiões como o de Loures capacidade de crescimento exponencial. Para o historiador, “a ortodoxia e o sectarismo estão mais presentes onde o PCP assentou a sua sobrevivência no pós-revolução”.
Não perca, na VISÃO desta semana, Jerónimo como nunca o viu
Viagem aos esteiros do Tejo, ao mato da Guiné, à infância em Pirescoxe e às primeiras gloriosas reuniões com os históricos do PCP. Onde se fala do reencontro com o antigo patrão e de um avô injustamente condenado por homicídio. Eis Jerónimo de Sousa, a personagem com paredes de vidro