Tudo começou com a revelação, a 13 de junho, de uma lista de 30 perguntas do PSD sobre a situação na Caixa Geral de Depósitos. Dirigidas ao primeiro-ministro, foram apresentadas dois dias antes do debate semanal no Parlamento, com António Costa.
Na arena parlamentar, o PSD manifestou insatisfação com as respostas obtidas. O líder da bancada social-democrata garantiu de imediato que avançaria com o agendamento potestativo, instrumento que permite a um partido, à revelia da maioria dos deputados, avançar com uma iniciativa política. Mas talvez nem seja necessário, pois na mesma sessão, Catarina Martins, líder do Bloco de esquerda, garantiu que daria o seu apoio à iniciativa se não fosse para “escolherem sozinhos o objeto e os negócios a escrutinar”, exigindo que a comissão fosse para “investigar tudo”.
O PS é contra. Carlos César, líder da bancada socialista, fez de imediato saber, através de uma notícia da Lusa, que a comissão de inquérito é uma “irresponsabilidade” que submeterá o banco “a uma devassa pública”. Miguel Tiago, do PCP, considerou a iniciativa social-democrata uma estratégia para instrumentalizar a CGD e levar à sua privatização.
O inquérito à Caixa Geral de Depósitos surge no momento em que o Governo negoceia em Bruxelas uma autorização para recapitalizar o banco público. Segundo uma notícia do Correio da Manhã da semana passada, o banco público te 2,3 mil milhões de empréstimos em risco de não serem pagos. A aquacultura da Pescanova, em Mira, a Brisal, concessionária de autoestrada A17, o grupo angolano Mosquito, detentor da construtora Soares da Costa, encontram-se entre os principais devedores do grupo bancário do Estado.
Após a manchete deste fim de semana do Expresso, no qual o jornal dava conta que a comissão de inquérito não agrada a Marcelo Rebelo de Sousa nem ao governador do Banco de Portugal, o PSD reiterou a intenção de avançar com o processo. José Sócrates, que na altura da concessão dos empréstimos suspeitos da CGD governava o país, já veio a público dizer que a comissão de inquérito tem por fito atingi-lo. “Tem como objetivo lançar outro ataque de caráter sobre mim e o Governo que liderei”, considerou o ex-primeiro-ministro e arguido no Caso Marquês num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias.