Porque é um “otimista” e se fosse médico prescreveria “otimismo a toda a gente”, António Costa sai do 21º Congresso do PS com a convicção de que com “as políticas certas” Portugal “vai ser capaz de vencer esta crise”.
A “geringonça”, para a qual pediu aprovação e os militantes lha deram sem sombra para dúvida, garante-lhe, para já, a “estabilidade” política de que precisa para levar a cabo essas políticas. E a ele unem a sua voz para se bater contra uma atitude de submissão na Europa e exigir tratamento igualitário entre países. Deixar claro à Comissão Europeia que vai “bater-se” contra qualquer sanção ao país por causa do défice foi um dos pontos altos do conclave. Um combate para o qual conta com uma “unanimidade” na Assembleia da República em torno de uma resolução que rejeite essas sanções.
E porque quando se lidera um partido ao mesmo tempo que se lidera um Governo, a agenda governativa domina, António Costa aproveitou o encerramento do 21º Congresso do PS para defender o que tem feito em São Bento e elogiar cada ministro, um a um.
Tiago Brandão Rodrigues: o herói do Congresso
As promessas foram muitas, as medidas lançadas várias e tocando em vários ministros. Mas foi a ovação a Tiago Brandão Rodrigues, o ministro da Educação, que deixou claro que o primeiro-ministro tem nele um dos seus principais ativos. Costa colocou o congresso vários vezes de pé a aplaudir o ministro que teve a “coragem” de enfrentar o lóbi dos colégios privados e a dizer o que “não é sequer metade do que António Arnaut disse quando lançou o Serviço Nacional de Saúde”. Nem o protesto à porta da FIL, umas horas antes, dos colégios a quem foi cortado o contrato de associação parece, assim, ter intimidado o primeiro-ministro nesta matéria. E os ecrãs do conclave transmitiram por várias vezes os sorrisos rasgados de um ministro que foi o foco de todas as atenções.
Contra as sanções, marchar
O Congresso levantou-se também perante as palavras de Costa, sempre que o líder levantou a voz para defender o acolhimento de refugiados. E foi essa imagem que usou para criticar as instituições de Bruxelas: “esta semana, quando 1000 seres humanos morreram afogados a tentar chegar à Europa, o que a Europa quer discutir é se Portugal excedeu em duas décimas o défice”.
“É imoral”, disse o secretário-geral do PS, quererem sancionar Portugal por 2015, quando em 2016 garante que o País vai cumprir o desígnio de ter um défice abaixo de 3%.
O tiro à Europa foi o desporto favorito e nem alguma água na fervura colocada pelos eurodeputados chegou para calar muitos dos congressistas que clamaram por uma voz grossa de Portugal na União. Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, até deu um contributo muito aplaudido, ao gritar do púlpito do congresso que está “contra” sanções a Portugal por causa do défice, com que a Comissão Europeia tem ameaçado o país. Também o outsider Pacheco Pereira, que foi debater à FIL o “Socialismo Democrático – que futuro?”, alinhou a sua voz com Ana Drago para atirar ao Tratado Orçamental, assumindo que é necessário rasgar o Tratado Orçamental sob pena de os partidos socialistas e sociais-democratas e todo o projeto europeu desaparecerem.
António Costa deu, no encerramento, o seu contributo, dizendo que socialistas e social-democratas têm que gritar “basta” à política neo-liberal. Mas colocou um ponto de ordem à mesa: “É difícil ser socialista no quadro da UE, mas fora da UE é impossível”. Mas é preciso estar de forma “leal e construtiva”, o que implica “não aceitar posição de submissão”. E até ironizou com as palavras do presidente da Comissão Europeia, quando disse que “a França é a França”. Acrescentou Costa: “e Portugal, é Portugal”.
Por isso, deixou a sua proposta para o projeto do euro: um “orçamento partilhado com capacidade de corrigir assimetrias”.
Críticos, mas pouco
Pedro Silva Pereira não gostou dos múltiplos comentários de que este foi um Congresso sem história. “Sem intriga, sim”, disse o eurodeputado. Sem oposição interna evidente a António Costa, essas “histórias” mais picantes que muitas vezes dominam os congressos partidários não sobressaíram. Os críticos resguardaram-se no silêncio – como fez Sérgio Sousa Pinto -, outros deram sinais de estar quase convertidos à solução de que discordaram – como Eurico Brilhante Dias – e só Francisco Assis se destacou como a voz “isolada”, como o próprio assumiu, que dentro do partido se manifestou contra o acordo de esquerda que sustenta o Governo.
O apoio indireto a Rui Moreira
As eleições autárquicas foram a prioridade assumida pelo partido para os próximos tempos. Sob a batuta da secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes o PS sai da FIL empenhado em vencer essas eleições, mas sem ter deixado uma meta concreta fixada ou um compromisso qualquer que limite escolhas, coligações ou consequências perante resultados bons ou maus.
Sobre o tema, Costa só deixou bem claro o que pensa sobre o PS apoiar a candidatura independente de Rui Moreira, no Porto. Sendo certo que o PS fará estas eleições “com o seu emblema”, seria “um disparate que pelo emblema da mãozinha” deixasse de apoiar projetos de sucesso em algumas cidades, disse o líder sem nunca referir diretamente Rui Moreira, mas deixando o recado: “A Comissão Política só irá avocar decisões nesta matéria quando achar necessário. Espero que não seja e que tudo corra bem em cada federaçãoo e concelhia”.
Um dos grandes apelos dos congressistas tinha sido pela descentralização de competência nas áreas metropolitanas (AM) de Lisboa e Porto. António Costa não fugiu ao tema no encerramento e colocou como meta ter o Governo a aprovar até ao final do ano, um novo quadro local de competências e meios de municípios e a democratização de eleição das CCDR.
Vestindo a pele de alcaide, garantiu que não esqueceu em seis meses como primeiro-ministro o que aprendeu em 8 anos de autarca.
O PS saiu da FIL, em Lisboa, com um novo presidente honorário – António Arnaut – que não escondeu a “surpresa e a honra” do convite. Mas também totalmente unido em torno da geringonça.