Considerava Mário Soares um bom candidato?
Decidi voltar à política, em 1984. Publiquei um artigo no Diário de Notícias a desafiar Soares para se candidatar à presidência. Antes disso, desafiei o [Salgado] Zenha.
Mas o Salgado Zenha não quis, embora mais tarde tenha sido candidato.
Ele disse-me que não e, três meses depois, senti-me livre para convidar o Soares. Era o plano B.
E depois do seu artigo?
O Mário Soares vem aqui a esta casa [apartamento de António Barreto, no bairro lisboeta da Lapa], logo no dia seguinte. “Sim senhor, li o seu artigo, vamos a isso.”
Tinha relações com Mário Soares?
Nós tínhamos feito as pazes, através do Sottomayor Cardia, num jantar em casa dele. Quando acabou o jantar, o Soares disse-me, à parte, que tínhamos de fazer as pazes. Eu disse-lhe que queria voltar a ter atividade política mas que gostava que um dia o PS me pedisse desculpas pela forma como me tratou em 1977-78, que reconhecesse que a Lei da Reforma Agrária era uma lei boa. Passou o tempo, em meados de 1985 recebo um telefonema do Cardia e do Jaime Gama a convidar-me para me apresentar às eleições, como independente. Sim senhor, mas só vou se o PS me pedir desculpas ou disser que eu tinha razão. Dois dias depois, dizem-me que seria cabeça de lista por Évora, e assim escusávamos de pedir desculpas uns aos outros. Em 1986, dei-me conta que ser deputado independente não fazia sentido e inscrevi-me como militante em Évora.