No jantar oficial oferecido pelo presidente moçambicano ao seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa quis transmitir, “com todo o respeito pela soberania de Moçambique, e como amigo”, a posição de Portugal sobre “a paz e a plena reconciliação” nacional, que tanto preocupam Filipe Nuysi. E a posição de Portugal é clara: “Portugal condena inequivocamente que numa democracia, na sua como noutras, se recorra à violência como forma de defender posições política ou defender pontos de vista.”
Disse ainda que “em qualquer Estado de direito, em qualquer democracia, há direito a todas as liberdade cívicas, mas espera-se em troca que a expressão da saudável pluralidade de campos se faça dentro do respeito pela Constituição e leis e com recurso ao Parlamento e à livre expressão de opiniões”.
Sem nunca referir o nome nem da Frelimo nem da Renamo (na oposição), disse esperar que “as forças político-partidárias se exprimam livremente, mas não pela força das armas. Espera-se que se convença os eleitores com base na força dor argumentos usados pela palavra, mas nunca pela força da violência ou pelo medo.”
O jantar, que teve lugar no palácio da Ponta Vermelha, não deixou de ter a marca dos afetos e de uma certa nostalgia (Nyusi partilhou ter convidado Marcelo a visitar a casa onde os seus pais viveram entre 1968 e 1970), mas os discursos foram marcadamente políticos. Confessando que Moçambique é uma país que “ama profundamente” e que sente como “segunda pátria”, garantiu retribuir colocando-se na posição de “mais que um amigo, um amigo devotado, um advogado empenhado, um parceiro estratégico e um irmão solidário”, que “nunca voltará as costas a Moçambique, sempre que aqui se entender que Portugal, o seu Presidente e o seu povo possam ser úteis para vos ajudar nalgum dos imensos desafios que têm pela frente.”
Mas, com as palavras bem medidas, disse e repetiu que “a opção e o caminho a seguir na senda do desenvolvimento e prestígio internacional é tarefa, acima de tudo, do estado soberano” moçambicano. Oferecendo a amizade e solidariedade de Portugal, salvaguardou que “não devemos nem queremos fazer o que compete aos moçambicanos”, naquela que, como diz o hino de Moçambique (que Marcelo cantou), é a “construção de um novo dia”.
Moçambique à procura de “portas e janelas”
O discurso político do Presidente português respondia ao desafio do seu anfitrião. Agradecendo o convite para a tomada de posse de Marcelo, saudando as suas palavra de “memória, lealdade, afeto e honestidade a um destino comum, tudo aquilo que consolida o nosso passado, constrói o presente e desenha o futuro” e congratulando-se com a “relação solidaria que começou há quatro décadas”, Nyusi também disse que “não bastam afetos para construir uma cooperação. Os afetos não bastam.”
Moçambique precisa de apoio para ultrapassar a crise económica e financeira. Os desafios da economia internacional são “difíceis”. E, num recurso às imagens, referiu que se as fortalezas que Moçambique tem ao longo da costa obedeciam à lógica da defesa, são fechadas e viradas para dentro, “a nossa secular amizade tem de estar repleta de janelas e pontes”.
No plano político interno, disse, “o diálogo continua a ser o caminho. Num plano mais geral, “a paz é essencial, mas não basta.” E aí, nessa construção de pontes, Portugal pode ser um irmão fundamental.