“Ao contrario do que é habitual em mim, eu nao estou lá muito otimista.” Estas foram as primeiras palavras que Marcelo Rebelo de Sousa, na viagem que o levaria até Maputo, diria aos jornalistas. Marcelo, que em Roma irradiava felicidade, confessava-se preocupado. Não com a situação económica, política ou institucional do país onde vai passar os próximos cinco dias, na sua primeira visita de Estado, mas com o mundo em geral e a Europa em particular.
Sem querer entrar no tema que o levava ali- de Moçambique só pretendia falar à chegada – o Presidente colocou no topo das suas preocupações a relação da Europa com a Grécia. Assegurando que “não é verdade que tenha havido um pedido de Cimeira [Europeia] extraordinária”, garantiu que “há suspensão de contactos institucionais [entre a Atenas e a UE] e isso merece acompanhamento e preocupação.” E tentando explicar o fim da onda de solidariedade em relação à situação grega, deu a entender se antes a Grécia era o problema, agora está no meio de muitos mais.
A Síria, por exemplo. Tem sido noticiado o agravamento da situação, nomeadamente em Aleppo. Da Líbia têm-lhe chegado ecos de melhoria das condições, mas o Presidente, que é também o Comandante Supremo das Forças Armadas, preferiu a prudência e dizer que “há uma possibilidade de a situação líbia merecer acompanhamento por parte da União Europeia.”
Para julho está marcada uma Cimeira da NATO. Neste momento “há duas visões [da política de segurança e defesa europeias]: uma visão de leste, mais preocupada com a Ucrânia e a Rússia e uma visão do sul, mais focada no norte de África, Próximo e Médio Oriente. É difícil coser as duas visões”. Assim, a reunião, em Varsóvia, servirá para redefinir a política de segurança e defesa europeia e tentar chegar a um entendimento sobre o caminho a seguir pelos parceiros europeus e os aliados do Atlântico Norte.
As sucessivas eleições no velho continente juntam-se às preocupações presidenciais. A instabilidade é palavra a que é avesso. Se, no seu entender, há alguma expectativa em relação ao regresso às urnas em Espanha, ao referendo na Grã Bretanha e às eleições em França e na Alemanha, no próximo ano, ainda haverá “um compasso de espera para se perceber o sentir das opiniões públicas”. Porque num momento em que “a Europa não está a crescer e a criar emprego”, acabam por se abrir as portas às “teses populistas, xenófobas e racistas”, que se constitui como mais uma preocupação para Marcelo Rebelo de Sousa.
Juntem-se a “desaceleração [da economia] americana e a falta de sinais da “evolução do petróleo” e temos o Presidente a concluir que “neste momento e nos próximos tempos, há evoluções que não controlamos e que podem, de facto, criar contextos muito complicados”.
É verdade que todas estas preocupações “tiram tempo à UE para olhar para questões mais estruturais”. Por outro lado, “a acumulação de preocupações em Bruxelas torna menos dramática a questão portuguesa.”
No primeiro dia de visita, Marcelo, acompanhado da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros, Teresa Ribeiro, e do Secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, visita um Centro de Formação Profissional de Metalomecânica, as instalações da Cooperação Técnico-Militar e o empreendimento Promovalor, em construção pela Mota Engil.