José Veiga, conhecido sobretudo por durante anos ter sido agente de jogadores de futebol e diridente da SAD do Benfica, e Paulo Santana Lopes, irmão do ex-primeiro-ministro e atual provedor da Santa Casa da Misericórdia, Pedro Santana Lopes, foram detidos esta manhã por suspeitas de corrupção no comércio internacional, fraude fiscal, branqueamento de capitais, tráfico de influência e participação económica em negócio. A operação foi conduzida pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ), no âmbito de um inquérito do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Foi ainda detida, na operação batizada de “Rota do Atlântico”, uma terceira pessoa do sexo feminino. Os detidos serão sujeitos nas próximas horas a primeiro interrogatório judicial.
Em causa, ao que a VISÃO apurou, estão suspeitas de origem ilícita de fundos provenientes do Congo Brazaville, Guiné Equatorial e países da América Latina e alegadamente usados para compra de imóveis e carros de alta cilindrada. Segundo uma nota divulgada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), estarão ainda em causa suspeitas de tráfico de influência e de participação económica em negócio na compra e venda de ações de uma instituição financeira estrangeira, sendo essas ações detidas por uma instituição de crédito nacional.
“Investiga-se, igualmente, a origem de fundos movimentados noutros negócios em que são intervenientes os suspeitos, nomeadamente, a celebração de contratos de fornecimento de bens e serviços, obras públicas e venda de produtos petrolíferos”, diz a PGR.
Noutro comunicado, a PJ acrescenta que “os detidos atuavam no âmbito da celebração de contratos de fornecimentos de bens e serviços, relacionados com obras públicas, construção civil e venda de produtos petrolíferos, entre diversas entidades privadas e estatais. Os proventos gerados com esta atividade eram utilizados na aquisição de imóveis, veículos de gama alta, sociedades não residentes e outros negócios, utilizando para o efeito pessoas com conhecimentos especiais e colocadas em lugares privilegiados, ocultando a origem do dinheiro e integrando-o na atividade económica licita.”
No decurso da operação de buscas – trinta e cinco, divididas pelas zonas de Lisboa, Braga e Fátima -, foram apreendidos imóveis, veículos de gama alta e saldos bancários. Além de empresas, foram também alvo de buscas uma instituição bancária e três escritórios de advogados.
José Veiga desaparecera dos radares em 2007, quando abandonou o Benfica. Voltou a “aparecer” no fim de 2014 na sequência da divulgação das conversas do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (que juntava os principais ramos da família Espírito Santo), primeiro pelo i, e depois pelo Sol. Em várias conversas gravadas durante o período da queda do GES (entre Novembro de 2013 e Julho de 2014), José Veiga é referenciado por Ricardo Salgado, então presidente executivo do BES, por Ricardo Abecassis Espírito Santo, que tratava dos negócios do BESI no Brasil, e por Pedro Mosqueira do Amaral, que lidava com negócios do grupo na Alemanha.
Veiga é apresentado por Salgado como “um tipo muito esperto, que ganhou muito dinheiro, mas que foi perseguido judicialmente por causa de uns offshores da bola e dos jogadores de futebol”. Nesse momento, estaria virado para negócios na Guiné Equatorial e no Congo, sendo intermediário da Asperbras e do Congo Brazaville. Tinham, à data, entre 150 a 300 milhões disponíveis para investir no GES. O grupo precisava urgentemente de investidores. Mas a possível entrada de Veiga num aumento de capital não foi bem recebida por todos, devido a receios de danos reputacionais. A solução passava por obrigar Veiga a assinar um acordo de confidencialidade, mas, com o colapso do BES e do GES, o negócio não terá chegado a avançar.
Já no início deste ano, José Veiga tornou-se notícia por liderar um consórcio luso-africano que apresentou uma proposta de compra do Novo Banco em Cabo Verde.