Tino de Rans
Vitorino Silva estava esta manhã de quinta-feira, 28, a calcetar uma parte da Avenida Marechal da Costa, no Porto. “Voltei ao trabalho. Gosto muito da minha arte. Enquanto trabalho descanso a cabeça”, conta ao telefone, antes de interromper a conversa. “Está aqui o engenheiro, já te ligo”.
Calceteiro da Câmara Municipal do Porto, Tino de Rans, como é mais conhecido, tinha agendada para o mesmo dia a participação no festival de Humar e Arte de Albergaria-a-Velha. “É uma palestra entre o Manuel João Vieira, ‘o candidato eterno’, e Tino de Rans, “o candidato terno’”, explica o próprio, depois de retomada a conversa telefónica. “Agora quero descansar um pouco mas o Tino não vai ficar parado”, adianta, acrescentando que está a ultimar um livro cujo título será “15 anos de Roda no Ar”. E, garante o candidato que conseguiu 3,28% dos votos, venceu na freguesia de Rans e foi segundo em Penafiel, que também tem um argumento para uma longa metragem já pronta, chamada Santo António à Deriva.
Quanto às despesas da campanha, Tino garante que não será necessário pedir nenhum empréstimo para as pagar. “Tivemos alguns donativos e fizemos uma campanha muito centrada no trabalho voluntário. Nas minhas deslocações, fiquei sempre em casa de amigos. O meu escritório foi a rua”, conta. Contudo, critica, “fazem a lei [do financiamento das campanhas] só para os grandes e talvez devessem começar a pensar também nos pequenos”.
Paulo de Morais
Especialista em Estatística e Investigação Operacional, o antigo vice-presidente da Câmara Municipal do Porto vai regressar ao ensino. “Sou professor da universidade Portucalense [no Porto] e no segundo semestre irei ensinar Estatística e Matemática aos cursos de licenciatura”, conta. Neste momento, as suas preocupações centram-se no pagamento das despesas aos fornecedores. “Vou manter a campanha de donativos por 15 dias e, no final desse período, saldarei as contas, arcando eu próprio com prejuízos que houver», diz. O candidato obteve 2,15% dos votos nas eleições presidenciais. Aos 52 anos, Paulo de Morais é também vice-presidente da Associação Transparência e Integridade, cargo que formalmente já retomou. Em setembro, termina o segundo mandato, que não poderá ser prorrogado segundo as regras internas da organização.
Marisa Matias
“Já cá estou”, explica Marisa Matias, ao telefone. O “cá” refere-se ao Parlamento Europeu (PE), para onde foi eleita em 2014. A dias de fazer 40 anos, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda retomou as funções de eurodeputada, que nunca teve de suspender. “Quando consultei os serviços do PE disseram-me que não necessitava de o fazer porque a campanha eleitoral em Portugal decorreu durante o período de férias dos eurodeputados”, explica.
Marisa Matias obteve 10,13% dos votos, conseguindo o melhor resultado de sempre para um candidato presidencial apoiado pelos bloquistas. “Vou reassumir as minhas funções e não tenho nenhum outro plano. Na verdade, não posso assumir mais nenhum compromisso além daqueles que já me ocupam aqui”. Marisa é vice-presidente da Comissão Especial TAXE, que acompanha as “matérias relacionadas com fraude, evasão fiscal e acordos fiscais especiais” e presidente da Delegação para as Relações com os Países do Maxereque (Egito, Jordânia, Líbano e Síria). Faz ainda parte da comissão dos Assuntos Económicos e Monetários.
Henrique Neto
“Retomei a minha vida normal. Estou a arrumar papéis, textos que publicámos durante a campanha”, explica Henrique Neto, 79 anos, um dos primeiros candidatos a apresentar-se ao eleitorado mas que não conseguiu mais do que 0,84% dos votos. “A 16 de fevereiro vou ter uma reunião com as pessoas que participaram na campanha e a nossa intenção é continuar a intervir publicamente”, assegura.
Reformado há cerca de cinco anos, depois de uma vida dedicada à indústria dos moldes, primeiro como operário e mais tarde como empresário (fundou e dirigiu a Iberomoldes), Henrique Neto espera agora concluir um livro, o terceiro de sua autoria, que começou a escrever dois anos antes do início da campanha. “Baseia-se nas crónicas que semanalmente mantenho no Jornal de Leiria”, explica.
Após as presidenciais, o candidato derrotado planeia ainda dedicar mais tempo à associação Faz Acontecer, que há uns anos fundou com um grupo de amigos. “Quando a lançámos, preocupava-nos a pergunta: Qual é o problema de Portugal? Achamos que tudo começa pelo sistema político e pelas leis eleitorais”, adianta Henrique Neto, que espera agora poder promover debates e conferências em que estes temas sejam centrais. E não descarta a publicação de outro livro, mais adiante, sobre a sua experiência como candidato às eleições presidenciais.
Edgar Silva
O candidato apoiado pelo Partido Comunista Português está de regresso à Madeira. “Estou no aeroporto, prestes a embarcar”, explica, ao telefone. Edgar Silva, 53 anos, planeia agora regressar à Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, cargo para que foi reeleito pelo PCP em 2015 e que ocupa desde 1996. “Não vou alterar nada na minha vida”, diz. Com 3,95% dos votos, o candidato obteve a mais baixa votação de sempre dos comunistas numa eleição presidencial.
O ex-padre vai também retomar o trabalho de coordenação do trabalho político do PCP na região autónoma, além de outros projetos.
– “Quais?”
– “Não os quero divulgar.”
Cândido Ferreira
O médico do distrito de Leiria já retomou o trabalho como diretor numa clínica de diálise. “Tenho sido elogiado pela minha coragem ao candidatar-me”, nota. Com apenas 0,23% dos votos, foi o candidato colocado em último lugar nas eleições presidenciais de domingo.
Cândido Ferreira, 66 anos, garante já ter pago todas as despesas da campanha, 54 mil euros. “É metade do meu ordenado anual”, nota. Também planeia escrever um livro, usando como base os textos que publicou durante a campanha eleitoral. “Estou agora a dar-lhes um fio condutor”. E já tem título: “Um combate Desigual”.
Jorge Sequeira
Ficou em penúltimo lugar, nas eleições de domingo, com apenas 0,30% dos votos. “Agora vou retomar a minha vida normal”, adianta Jorge Sequeira. “Dez por cento é no ensino e o resto na minha empresa”. Professor no Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (Vila Nova de Gaia), o psicólogo é também motivational speaker: dá palestras em empresas sobre liderança, motivação e empreendedorismo.
Jorge Sequeira planeia também regressar ao comentário político no Porto Canal, onde fazia parceria com Júlio Magalhães, diretor-geral da estação de televisão. “Foi lá que começou isto [a candidatura], quando o Júlio Magalhães me desafiou a concorrer à presidência”, lembra.
Maria de Belém
“Não vou fazer nenhumas declarações sobre o assunto”, começa por dizer Maria de Belém, ao telefone, sugerindo que só atendera porque não sabia que se encontrava um jornalista do outro lado da linha. Mas depois de alguma insistência a candidata socialista, ex-presidente do PS e ministra da Saúde no primeiro governo de António Guterres, que ficou em quarto lugar, com 4,24% dos votos, afirma que retomará “a vida habitual”, sem mais explicações. “Agora estou de férias”.
Sampaio da Nóvoa
Assegura uma colaboradora próxima de Sampaio da Nóvoa, 61 anos, que o professor catedrático do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa regressará à vida universitária. “Não há um plano B. Era uma candidatura linear, que acabou com a sua não eleição.” Sampaio da Nóvoa conseguiu 22,89% de votos arrecadados no domingo, que lhe garantiram a segunda posição na eleição mas não forçaram uma segunda volta.