Estas afirmações foram proferidas por José Sócrates em entrevista à TVI, depois de confrontado com a posição oficial do PS, liderado por António Costa, de separação entre justiça e política, não se pronunciando sobre o seu caso judicial.
“Ao fim de seis meses, eu realmente o que contava não é que o PS interviesse no processo, mas que o PS dissesse: Desculpem, mas não será o momento de apresentarem as provas? Acham que isto não passou já a mais? Não acham que o PS está a ser prejudicado por isto?”, declarou o ex-primeiro-ministro, numa alusão crítica à direção do seu partido.
De acordo com José Sócrates, o processo judicial que o envolve “serviu para alimentar a conversa” do executivo PSD/CDS-PP “sobre o Governo anterior” do PS, “porque lançou um manto de suspeição sobre o Governo anterior: Um Governo desonesto”.
José Sócrates defendeu depois que “o Ministério Público devia ter e tinha consciência disso”, referindo-se às consequências políticas do processo que o envolve.
A seguir, no entanto, ressalvou: “Não digo que tivesse essa intenção, mas o resultado foi esse: Prejudicar o PS, e prejudicar [o PS] nas eleições. Repare, só me soltaram depois das eleições. É por isso que eu acho que a justiça se expôs. Eu quando digo justiça, a comunidade jurídica percebe o que estou a dizer: Estou a falar destas pessoas que tomaram decisões”, apontou.
Para o ex-secretário-geral do PS, “as decisões que foram tomadas neste caso deixam a suspeição de que as consequências foram obtidas”.
“Já não precisam de apresentar a acusação, já não precisam de apresentar a prova e já não precisam sequer de fazer julgamento, porque o julgamento já foi feito nos jornais. É essa a impressão que dá”, sustentou ainda o ex-primeiro-ministro.
Para justificar tudo o que ocorreu no último ano, Sócrates ensaia uma tese: a de que o MP, em concreto Rosário Teixeira, alimenta contra si um “ódio pessoal”.
O ex-primeiro-ministro voltou a afirmar a sua convicção de que o processo em que é suspeito de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais tem motivações políticas e de que também se pretendia “vergar, atingir, atemorizar” o socialista e os seus familiares.
Ao longo de 13 meses, desde que foi detido, José Sócrates criticou a postura de Rosário Teixeira e do juiz de instrução criminal, Carlos Alexandre – sobretudo a do primeiro – e questionou as motivações do procurador. Esta noite, juntou outra figura ao rol de visados: Joana Marques Vidal. A Procuradora-geral da República “é a principal responsável” do processo e cabe-lhe “dar uma explicação (…) também pelo comportamento do MP”.
Na entrevista, José Sócrates recusou-se a esclarecer quais as suas relações atuais com o secretário-geral do PS, mas deixou um recado: “Ao longo deste último ano não me faltaram os amigos”.
“Todos aqueles que queria que estivesse comigo estiveram e continuaram comigo.”