É um desafio arriscado. Ambicioso, como diz Tomás Almeida, 35 anos, jurista, porta-voz e um dos fundadores do Movimento Compromisso Democrático (MCD). O grupo descreve-se como “a primeira geração que viveu toda a sua vida em democracia” e quer ligar, através de um cordão humano, as sedes do PS, PSD e CDS e a Assembleia da República. Será no dia 4 de novembro, pelas 19 horas.
Feitas as contas, o percurso total é de quatro quilómetros de gente – 1,9km do Largo do Caldas (sede do CDS) à AR; 900 metros da AR ao Largo do Rato (sede do PS) e 1,2km da Rua de São Caetano à Lapa (sede do PSD) à AR. Em pessoas, assumindo que cada indivíduo pode ocupar um metro, serão precisos 4000 ‘voluntários’. “Já fizemos as contas e sabemos que é um objetivo ambicioso”, diz Tomás Almeida, à VISÃO.
O cordão nascerá em frente à Casa da Democracia, como lhe chama o porta-voz do MCD e, a partir daí, irradiará o espírito de diálogo e conciliação para as sedes do PS, PSD e CDS, como uma estrela. A finalidade é mesmo essa: “unir o que está dividido”, combatendo o “clima de crispação e a divisão artificial entre esquerda e direita” que resultou da leitura que alguns fizeram das eleições de 4 de outubro. “Este é um grito que vem da sociedade civil. Nenhum de nós tem experiência política. Eu nunca militei em nenhum partido, por exemplo”, explica Tomás Almeida.
E porque falta de experiência não significa, necessariamente, falta de interesse, os promotores do Movimento Compromisso Democrático começaram por lançar um manifesto precisamente no dia em que Pedro Passos Coelho foi indigitado para formar governo, a 22 de outubro. Até hoje, o documento foi subscrito por mais de 1500 pessoas.
Jovens nos trinta
Pontuado com palavras como “ética”, “valores”, “estabilidade” ou “legitimidade”, o texto apela à união. “Não acreditamos em soluções que em duas semanas sanam quarenta anos de divergências doutrinárias profundas, da mesma forma que recusamos divisões artificiais entre partidos e programas que não diferem nos compromissos essenciais assumidos por Portugal”, lê-se no manifesto. “Acreditamos que socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos, reconhecendo a sua matriz comum, serão capazes de continuar o projeto de um Portugal democrático, plural, europeu e social e criar este consenso alargado”.
Os subscritores fundadores assumem-se como “cidadãos de diferentes quadrantes da sociedade” e têm entre 29 e 35 anos. São onze: Sibila Camal (gestora de projetos e mentora do movimento); Luís Mascarenhas (médico e docente universitário); Luís Xavier (gestor de projetos); Joana Monteiro (bolseira de investigação); João Andrade (gestor); João Monteiro (marketeer); Teresa Nazareth (bolseira de investigação); Tomás Albergaria (dentista); Salvador Cabral (advogado); Teresa Nogueira Pinto (consultora); e Tomás Almeida (jurista).
“Já que os partidos não souberam fazer compromissos antes das eleições, o eleitorado provocou essa conciliação e preferiu não dar maioria absoluta a ninguém. É essa a leitura que fazemos dos resultados”, diz o porta-voz do Movimento que acabou de inaugurar uma página na internet – www.compromissodemocratico.pt ou www.compromissodemocratico.org.
Na segunda-feira, 2 de novembro, antes mesmo do cordão humano, o MCD vai à Assembleia da República entregar o seu manifesto a todos os partidos com assento parlamentar. Para já, o grupo continua a reunir-se a seguir ao jantar, ora em casa de um ora em casa de outro, a fazer tertúlias sobre a atualidade política. A democracia está viva.