Em casa ou na sala de uma associação, na televisão e no twitter ou na internet, um dirigente do PSD, um deputado social-democrata e o líder de uma corrente do CDS que desafiou a liderança de Paulo Portas viram o debate com a atenção (e a intenção) de o comentarem depois, no site da VISÃO. Eis as ideias principais:
Filipe Anacoreta Correia, militante do CDS
O debate foi bastante dividido e equilibrado, em termos de tempo, agressividade e posicionamento. Em muitos momentos foi bastante técnico e o meu receio é que os portugueses tenham desligado por causa da complexidade dos temas. Mas parece-me que o que fica é uma atitude mais agressiva por parte de António Costa, que reflete a posição em que se encontrava antes de o debate começar, por oposição à pedagogia de Pedro Passos Coelho, que acaba por transmitir mais credibilidade e tranquilidade.
António Costa foi mais desonesto intelectualmente, tentou explorar uma abordagem simplista dos assuntos e teve dificuldade em distanciar-se da herança socialista. Passos transmitiu maior cautela em relação aos assuntos e passou a mensagem de que Costa e o PS estão a ser aventureiros e trazem riscos. O que Passos procurou dizer foi que o PS quer seguir o caminho do passado, do aumento do défice e do despesismo que não conduz nem ao crescimento económico nem à criação de emprego. Em termos de perceção, a mensagem transmitida foi a da tranquilidade, conhecimento técnico, rigor e competência. No contrabalanço, Costa insistiu que as suas propostas são credíveis e assentam em trabalho rigoroso e foi percecionado como mais agressivo e mais desesperado em que o seu discurso seja apreendido.
Quem ganhou foi Pedro Passos Coelho porque as mensagens subjacentes à sua postura são mais fortes.
Duarte Marques, deputado do PSD
Foram dois estilos completamente diferentes. António Costa esteve melhor nos soundbytes e teve uma prestação muito mais teatralizada. A curto prazo, admito que isso possa ser mais eficaz, mas a longo prazo dá um ar mais trauliteiro e de maior brejeirice. Na verdade, não respondeu a nada. Daqui a uns tempos, acredito que Passos Coelho possa tirar mais frutos da sua prestação, porque teve mais sentido de Estado, humildade e serenidade.
Contra um António Costa pugilista que não transmitiu confiança, apresentou-se um Passos mais explicativo e convincente. Notei-o apenas mais irritado que o habitual, sobretudo com a desonestidade intelectual que António Costa, por vezes, demonstrou. Diria que foi um debate entre um bom challenger e um primeiro-ministro. Diria também que quem ganhou hoje foi Costa, mas em quem os portugueses vão votar, daqui a semanas, é em Passos, porque era a ele que as pessoas que viram o debate comprariam um carro.
E se na primeira parte António Costa foi melhor, na segunda Passos Coelho despiu o fato de primeiro-ministro e foi muito mais assertivo. Em conclusão, acho que é ele quem acaba por tirar mais vantagem deste debate. Pedro Passos Coelho deu mais garantias aos indecisos que procuram estabilidade e confiança. Foi honesto. António Costa foi mais entusiasmante para a sua claque.
Não foi um debate memorável.
Miguel Pinto Luz, líder da distrital de Lisboa do PSD
Na primeira parte do debate, quando se debatia o passado, António Costa tentou de forma ridícula, diria mesmo vergonhosa, culpabilizar o PSD pela vinda da troika para Portugal. Se há coisa que afasta cada vez mais os portugueses da política é a covardia de alguns políticos, que não sendo capazes de assumir as suas responsabilidades nem dos seus partidos, sacodem a água do capote e olham em frente como se o passado não existisse.
Mas o Rei vai nu e Passos Coelho demonstrou de forma serena que colocou sempre os interesses do País e dos portugueses à frente dos seus interesses pessoais e de carreira, bem como dos interesses do seu partido.
Qual volte face, no início da segunda parte do debate, António Costa corrigiu o tiro e disse que assume as suas responsabilidades e as do Partido Socialista, recorrendo mais uma vez a quadros e recortes de jornais para provar o impossível.
Costa deixou claro que não está disponível para qualquer entendimento a favor de Portugal e recordou a reforma da Segurança Social do PS em 2007 como exemplar, mas faltou dizer que afinal a reforma não foi suficiente. Mais uma vez Passos Coelho foi objetivo na explicação de como salvar e garantir a sustentabilidade da Segurança Social, lembrando que, nem Costa nem Seguro, quiseram sentar-se a discutir este assunto tão importante para o nosso futuro.
Passos Coelho com humildade assumiu que não conseguiu cumprir o objetivo de um médico de família para cada português. Costa por seu lado fez um exercício narcísico de elogio aos seus mandatos à frente da Câmara de Lisboa.
Costa apostou nos recortes de jornal, na análise superficial e na mistificação do passado, não se comprometendo com nada de fundo. Não deu garantias de confiança aos portugueses para merecer o seu mandato. Passos Coelho mostrou serenidade, conhecimento robusto dos dossiers e um profundo sentido de estado.