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Filipe Luís: “Todos contra Sócrates”
Desta vez, ainda sem jantar, o comentador olha para o debate com a barriga a dar horas e um bocejo escancarado. De repente, tudo parece verosímil – a começar por um Governo CDS/PCP, tal é a harmonia, a concórdia e, até, a coincidência de pontos de vista entre estes dois
Paulo portas tem uma frase lapidar, no final do debate: “Os votos nos partidos da oposição serão votos contra Sócrates”. Sem querer, ele explica o estranho fenómeno da cordialidade, concordância e coincidência de posições nos pseudo-debates entre os líderes da oposição. Como eleitores, temos de nos sentir enganados: afinal, pela conversa a que acabamos de assistir, há alguma divergência inultrapassável, que impeça, por exemplo, uma coligação entre o CDS e o PCP? Se há, ninguém diria. Mas se não há, porque não se juntam todos – já agora com o PSD e o BE – para opor ao PS uma ampla proposta de Governo nacional da oposição coligada?
Réplica? Qual réplica?
Tramas que a politiquice tece: a ninguém convém desviar os eleitores do essencial. E o essencial é tudo contra Sócrates. Ora, braços de ferro entre os partidos da oposição só desgastam os respectivos líderes, desviando dos eleitores a atenção do “tal essencial”. É por isso que, mau grado a maior clareza de discurso de Paulo Portas, ninguém ganhou ou perdeu este debate. Aliás, Jerónimo, visivelmente mais incomodado pela falta de contraditório, lembra, a propósito das críticas de Portas ao ministro da Agricultura, que o PSD e o CDS, no Governo, também deixaram perder fundos estruturais. Isto para tentar satisfazer o pedido da moderadora, Clara de Sousa, que depois do latinório do líder do CDS contra o ministro da Agricultura deu a Jerónimo um minuto de… réplica! Réplica? Mas qual réplica?
Ao menos, debatam!
Este tipo de discussão vem dar razão a José Sócrates, quando começou por recusar este modelo de debates a dois. Debates a dois que, como o de hoje, servem única e simplesmente como tempos de antena para os partidos. O que é uma falcatrua para o telespectador e para o eleitorado. Porque isto não é realmente um “debate”
Lembramo-nos dos debates verdadeiramente contraditórios e ideológicos da fundação da nossa democracia, imaginamos o que seria um debate entre Álvaro Cunhal e Freitas do Amaral, recordamos as pedradas e o cerco comunista ao primeiro congresso do CDS, no Porto, ou a participação de militantes ditos “centristas” nos assaltos às sedes do PCP, pouco depois. Não foram bons tempos. Mas não havia este taticismo, estas águas paradas e esta hipocrisia. Se os líderes partidários tanto queriam debates, é legítimo esperar que, ao menos, debatam.
PS – Fica em suspenso, enfim, a hipótese de coligação CDS-PSD, com “cautelas e caldos de galinha”, da parte do CDS, uma expressão que Portas já utilizara em declarações à VISÃO, há cerca de três semanas. Pelo que esse debate entre os líderes mais à direita terá, ao menos, o picante de se perceberem quais são as condições para tal entendimento.