Daniil Koretskiy, 28 anos, não tem grandes sonhos de grandeza: só pedia que o deixassem tocar violino na rua, a troco de umas moedas de cada vez. Mas nem isso lhe era permitido. O refugiado ucraniano, com 95% de incapacidade visual, aprendeu da pior forma que, em Portugal, é preciso licença da câmara para tocar no espaço público: em fevereiro, foi apanhado por agentes da Polícia Municipal de Lisboa, que o multaram em €160, lhe confiscaram a coluna de som e o avisaram que, se o voltassem a encontrar a tocar, também ficaria sem o violino.
O jovem ficou em pânico, mas não tinha alternativa. A única fonte de rendimento, dele e da mãe, era o dinheiro que ganhava na rua. E não podia pedir licença, porque ainda não lhe tinha sido atribuído o certificado de proteção temporária, pedido ao SEF em setembro, dias depois de chegar ao nosso país (para as autoridades portuguesas, Daniil vivia num limbo, sem existência legal). Continuou assim a tocar, normalmente na zona de Belém, com a ansiedade constante de ouvir a voz de um polícia a pedir-lhe os documentos.
O inferno burocrático terminou esta segunda-feira, ao fim de sete longos meses. Raiisa, a mãe, disse à VISÃO que o certificado ficou finalmente disponível, o que inclui números de contribuinte, de segurança social e de utente. A partir de agora, mãe e filho podem trabalhar e ter acesso aos apoios sociais atribuídos aos refugiados (€189 para a mãe, €132 para o filho) e ao SNS.
Recorde aqui a história contada pela VISÃO.