O atual presidente americano continua a recusar-se a aceitar que perdeu as eleições. Pelo contrário, garante que vai abrir uma guerra nos tribunais para tentar vencer aquilo que o voto popular não lhe deu. Não se antevê quando, e como, reconhecerá que perdeu a corrida eleitoral, se é que alguma vez o fará num discurso público. Mas antes dele, outros derrotados têm feito dos discursos de aceitação de derrota – e alguns em circunstâncias muito dolorosas – uma forma de unir o povo. Aqui ficam alguns dos mais memoráveis das últimas cinco décadas.
Walter F. Mondale, 1984
A sua derrota foi pesada: o incumbente Ronald Reagan ganhou com 58,8% dos votos. O democrata Mondale saiu com elegância. “Há poucos minutos liguei para o Presidente dos Estados Unidos e o felicitei por sua vitória na reeleição como Presidente dos Estados Unidos. Ele ganhou. Somos todos americanos. Ele é nosso presidente, e nós homenageamo-lo esta noite”, começou.
“O povo americano, nas câmaras, nas casas, nos bombeiros, nas bibliotecas, escolheu o ocupante do cargo mais poderoso da Terra. A sua escolha foi feita pacificamente, com dignidade e majestade, e embora eu preferisse ter ganho, esta noite alegramo-nos pela nossa democracia, e regozijamo-nos pela liberdade de um povo maravilhoso e aceitamos o seu veredicto. Agradeço ao povo da América por me ter ouvido.”
George Bush, 1992
George H.W. Bush fez um discurso de aceitação da derrota memorável. Perdeu para Bill Clinton, em 1992. “O povo falou e nós respeitamos a majestade do sistema democrático”, disse Bush. “Acabei de ligar para o governador Clinton em Little Rock e dei-lhe os meus parabéns. Ele fez uma campanha forte. Desejo-lhe felicidades na Casa Branca e quero que o país saiba que todo o nosso governo trabalhará em estreita colaboração com a sua equipa para garantir uma transição tranquila de poder. Há um trabalho importante a ser feito e os Estados Unidos devem sempre estar em primeiro lugar, portanto, apoiaremos esse novo presidente e desejaremos o melhor a ele ”. Um sorridente e tranquilo Bush desejou ao governo Clinton uma “transição suave de poder”.
Al Gore, 2000
Depois da mais longa (pelo menos até agora) decisão eleitoral dos EUA da História moderna, Al Gore, ex-vice-presidente de Bill Clinton, assumiu que perdera – apesar de ter sido uma derrota particularmente difícil de engolir, com recontagens na Florida travadas pelo Supremo Tribunal. “Digo ao presidente eleito Bush que o que resta do rancor partidário deve agora ser posto de lado, e que Deus abençoe a sua administração deste país”, disse, após citar o discurso de concessão de Stephen Douglas a Abraham Lincoln. “Também aceito a minha responsabilidade, que cumprirei incondicionalmente, de homenagear o novo presidente eleito e fazer o possível para o ajudar a reunir os americanos em cumprimento da grande visão que nossa Declaração de Independência define e que nossa Constituição afirma e defende. (…) O presidente eleito Bush herda uma nação cujos cidadãos estarão prontos para o ajudar na condução das suas grandes responsabilidades. Estarei pessoalmente à sua disposição e apelo a todos os americanos – exorto particularmente todos os que estiveram connosco – a unirem-se em redor do nosso próximo presidente.”
John McCain, 2008
É considerado um dos melhores discursos de concessão de sempre. Escrito pelo seu assistente e biógrafo de longa data, Mark Salter, foi um exemplo de elevação e salutar convivência democrática. Em 2008, o senador John McCain reconheceu que o povo americano tinha “falado claramente” e que tinha escolhido Barack Obama. E foi mais longe. McCain disse que era hora de o país ir além do flagelo do racismo e se unir, sublinhando que era “uma eleição histórica”, porque Obama era o primeiro negro eleito presidente. “Reconheço o significado especial que tem para os afro-americanos e para o orgulho especial que deve ser deles esta noite.”
Hillary Clinton, 2016
Não deve ter sido fácil para Hillary perder contra um misógino. Mas fê-lo com elevação. “Acabei de dar os parabéns a Donald Trump e ofereci-me para trabalhar com ele, em prol do nosso país. Espero que ele seja um presidente bem sucedido para todos os americanos. (…) Vimos que nossa nação está mais profundamente dividida do que pensávamos. Mas ainda acredito na América e sempre acreditarei. E se pensarmos assim, devemos aceitar este resultado e olhar para o futuro. Donald Trump vai ser o nosso presidente. Devemos esperar que ele tenha uma mente aberta e temos de lhe dar a oportunidade de liderar. A nossa democracia constitucional consagra a transferência pacífica do poder e isso é algo que não apenas respeitamos isso, mas que valorizamos.”