Em vésperas das eleições presidenciais mais importantes das últimas décadas, os americanos estão divididos em dois blocos que discordam em quase tudo menos numa coisa: a fé no boletim meteorológico. Há três anos consecutivos que os estudos de opinião da YouGov demonstram que o The Weather Channel é o único canal de televisão que consegue ganhar a atenção, em simultâneo, tanto dos eleitores democratas como dos republicamos. De resto, “azuis” e “vermelhos” (as cores com que os dois partidos se “vestem” nos EUA) divergem em todas as outras fontes de informação, quase como se vivessem em universos paralelos que nunca se chegam realmente a cruzar: os apoiantes de Kamala Harris veem a CNN e confiam na imprensa de referência, como o The New York Times, enquanto os seguidores de Donald Trump desconfiam da chamada media tradicional e preferem informar-se através da Fox News e pouco mais.
Esta clivagem tão acentuada nos estudos de opinião sobre a confiança nos órgãos de informação constitui um indicador preciso da grande divisão atualmente existente nos EUA – um país onde, ainda há apenas meio século, a realidade era completamente diferente. Nos anos 1960 e 1970, a personalidade mais consensual para a esmagadora maioria da população era o jornalista Walter Cronkite, admirado pela forma como apresentava as notícias na CBS News de uma forma considerada justa e precisa por toda a nação. “Mesmo quando a sua visão desafiava a linha oficial ou a opinião popular, como quando, após uma viagem de reportagem ao Vietname, disse aos seus 30 milhões de espectadores que a guerra estava num impasse, ajudando a virar a opinião pública contra a presença das tropas americanas naquele conflito”, como lembrou o antigo diretor do New York Times, Bill Keller, num ensaio recente publicado na Bloomberg.