Comecemos pela frase de dois médicos que foi também título de um artigo recente do jornal El País: “Um castelo de areia não pode parar um tsunami.” Immaculada Mora e Manuel Gálvez referem-se à incapacidade de resposta do serviço de urgência onde trabalham, o Hospital Insular Nuestra Señora de Los Reyes, o terceiro mais pequeno de Espanha, com apenas 33 camas. O estabelecimento foi planeado para assistir os 11 646 habitantes da ilha mais meridional das Canárias, El Hierro. Sucede que este ano já recebeu um número superior de pacientes oriundos de África. Na madrugada de 28 de setembro, médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar foram avisados para acorrerem a uma situação crítica. Um cayuco, embarcação de pesca que pode ter uma dúzia de metros, virara-se a uns sete quilómetros da ilha. A azáfama esperada deu lugar a um profundo sentimento de pesar. Dos estimados 90 passageiros a bordo, apenas 27 sobreviveram, incluindo quatro miúdos: “Parecia não ter mais de 10 anos, embora nos tivesse dito que tinha 13. (…) Viu afogar-se o irmão mais velho e a irmã mais nova. Estava num pranto. (…) É nestas alturas que costumo dizer que ficamos sem medicamentos”, confessou Immaculada Mora ao diário de Madrid, referindo-se ao pior naufrágio que a comunidade local conheceu em três décadas.
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