Nasceu a 19 de outubro de 1968, tem uma carreira política que já leva mais de três décadas, foi ministro do Interior (2017-2019), lidera o partido político que todas as sondagens apontam como grande favorito nas legislativas de 29 de setembro e, mesmo assim, é tido como uma personagem misteriosa. Filho e neto de nazis, Herbert Kickl habilita-se a ganhar de forma clara o escrutínio do próximo domingo, embora seja duvidoso que consiga formar um governo e ser chanceler (o equivalente a primeiro-ministro).
Pela primeira vez desde o fim da II Guerra Mundial, o seu Partido da Liberdade (FPÖ), organização criada por antigos oficiais das SS (força de combate do partido de Adolf Hitler), pode vencer as eleições gerais, mas ainda está por saber se Kickl irá garantir apoios e celebrar compromissos que lhe permitam assumir a chefia do país encravado nos Alpes que partilha fronteiras com outros seis Estados-membros da União Europeia e também com a Suíça e o Liechtenstein. A explicação é simples: em termos públicos, os oito partidos que vão a votos com o FPÖ rejeitam qualquer entendimento com a formação que quase todos apelidam de “radical”, “xenófoba” e “populista”. Na prática, e nos bastidores, podem já estar a decorrer negociações com a formação que, desde o seu início, em 1956, pela mão de Anton Reinthaller e Friedrich Peter, sempre se regeu pelo pragmatismo e suposto liberalismo. Logo no seu segundo ano de existência, o FPÖ fez um acordo com o então chanceler Julius Raab para, em conjunto, elegeram o candidato presidencial da direita conservadora ‒ Wolfgang Denk, que seria derrotado pelo social-democrata Adolf Schärf), ou seja, apesar de ser um partido minoritário (até 1986 nunca atingiu os dois dígitos em eleições gerais), o FPÖ, nos últimos 68 anos, nunca teve menos de seis deputados em cada legislatura e nunca hesitou em fazer pactos, em função dos seus interesses conjunturais. Em 1970, deu respaldo parlamentar ao governo minoritário de Bruno Kreisky ‒ líder histórico dos sociais-democratas austríacos (SPÖ). Em 1983, integra pela primeira vez um executivo federal, também com o SPÖ, com o respetivo chefe de fila, Norbert Steger, a ser nomeado vice-chanceler e a pasta da Defesa a ficar sob tutela de Friedhelm Frischenschlager, que desencadeou um escândalo nacional ao receber, em funções, um criminoso de guerra (o nazi Walter Reed) que cometera vários massacres e cumprira quase três décadas de prisão em Itália. Em 1999, foi a vez do Partido Popular (ÖVP) unir forças com o carismático e radical Jörg Haider, formando uma coligação que indignou a União Europeia e a levou a decretar várias sanções contra a presença da extrema-direita no governo de Viena. É nesta altura que Herbert Kickl entra a sério no jogo político, escrevendo os discursos de Haider e desempenhando ainda o papel de assessor e estratega. Sempre na maior das discrições.