“Faca: Meditações na Sequência de uma Tentativa de Homicídio” (“Knife: Meditations After an Attempted Murder”, no original), o livro de memórias de Salman Rushdie sobre o esfaqueamento que o vitimou em 2022, foi lançado esta terça-feira nos Estados Unidos e vai ter edição portuguesa à venda a partir de 14 de maio, com tradução de J. Teixeira de Aguilar, estando também prevista a vinda do autor a Portugal em setembro.
O escritor britânico-norte-americano, de 76 anos, foi vítima de um ataque com faca, na tarde de 12 de agosto de 2022, quando se preparava para dar uma palestra numa universidade de Nova Iorque.
Nesta obra que agora é lançada, 33 anos depois da ‘fatwa’ (decreto religioso) decretada contra Salman Rushdie pelo aiatola Ruhollah Khomeini, na sequência da publicação de “Os Versículos Satânicos”, o escritor fala pela primeira vez, e com memorável pormenor, dos traumáticos acontecimentos desse dia, que o mundo inteiro presenciou.
A viver desde 1989 sob ameaça de morte, depois da emissão da ‘fatwa’, Salman Rushdie desde há muito que se interrogava sobre quem o iria matar, revelou o próprio escritor no dia 12 de abril, em declarações públicas, detalhando depois que, quando foi apunhalado, o seu primeiro pensamento foi “então és tu!”.
Salman Rushdie foi agredido à facada em agosto de 2022, durante uma conferência literária, em Chautauqua, na região de Nova Iorque, por um norte-americano de origem libanesa, suspeito de ser simpatizante da República Islâmica do Irão. Ferido gravemente, o escritor veio depois a perder um olho e a sofrer danos nos nervos da mão.
O autor leu um extrato da sua nova obra para a cadeia televisiva norte-americana CBS News, em emissão difundida no dia 14 de abril. Ao “60 Minutos” de Anderson Cooper, o escritor contou que teve um premonição do ataque dias antes, quando sonhou “que estava a ser atacado num anfiteatro. “Disse à minha mulher, Eliza, ‘não quero ir’ por causa do sonho. E depois pensei ‘não sejas tonto, é um sonho'”.
Nascido em Bombaim, em 1947, Salman Rushdie publicou o seu primeiro romance — “Grimus” — em 1975. Autor de 15 romances, contos para a juventude e ensaios, recebeu em 1981 o Prémio Booker pelo livro “Os filhos da Meia-Noite”, tendo sido eleito o melhor vencedor de sempre daquele prestigiado prémio literário em 2008.
O escritor incendiou parte do mundo muçulmano com a publicação da obra “Versículos Satânicos”, em 1988, que levou o fundador da República Islâmica, o aiatola Ruhollah Khomeini, a emitir uma ‘fatwa’ a ordenar a sua morte. Depois disso, passou anos escondido e com proteção policial, mas regressou gradualmente à vida pública depois de, em 1998, o governo iraniano se ter distanciado da ordem, afirmando que não apoiaria alguma tentativa de o matar, embora a ‘fatwa’ nunca tenha sido oficialmente revogada.
O seu romance mais recente, “Cidade da Vitória”, concluído um mês antes do atentado e lançado internacionalmente em fevereiro de 2023, foi publicado em Portugal em setembro desse ano.
com Lusa