A 25 de abril, a maioria dos portugueses celebra o fim da ditadura do Estado Novo, em 1974. Em Itália, na mesma data, é suposto assinalar-se a Festa da Libertação, o feriado que marca o fim da ocupação nazi, em 1945. Num país e no outro, há sempre gente do contra e que jamais aceitará participar em marchas e desfiles em nome da democracia. Em Roma, com as duas câmaras do Parlamento maioritariamente controladas por conservadores e populistas, este é um não assunto. Se Portugal tem agora um vice-presidente da Assembleia da República simpatizante dos tempos da outra senhora (Diogo Pacheco de Amorim, do Chega), Itália tem como segunda figura do Estado, o presidente do Senado, Ignazio La Russa, um antigo dirigente do Movimento Sociale Italiano – Destra Nazionale (MSI), formação neofascista criada em 1946, um ano depois da morte de Benito Mussolini e da extinção do regime fantoche e pró-hitleriano popularmente conhecido como República de Saló.
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Que tem este introito a ver com Giorgia Meloni, a primeira mulher a liderar o governo do Bel Paese, a terceira maior economia da União Europeia? Itália sempre foi um laboratório político capaz de antecipar tendências. Há exatamente três décadas, na sequência da Operação Mãos Limpas e da implosão do sistema político-partidário do pós-guerra, Silvio Berlusconi deu corpo ao populismo. Nessa altura, já a adolescente Meloni integrava o MSI e dava mostras de uma excecional ambição de poder. Admiradora de Mussolini, defensora do lema “Deus, Pátria e Família”, autointitulando-se “conservadora”, “cristã” e “pós-feminista”, torna-se autarca, em Roma, aos 21 anos, e, em 2008, Berlusconi escolhe-a como ministra da Juventude. Quando Il Cavalieri é arredado do Palazzo Chigi, sede do executivo e residência oficial do primeiro-ministro, devido à crise financeira e das dívidas soberanas, em novembro de 2011, Giorgia Meloni recusa integrar ou apoiar o novo governo (tecnocrático) de unidade nacional de Mario Monti. Motivo: ganhar tempo para se distinguir de todos os outros líderes partidários e vir a ser reconhecida como principal líder da oposição. Como sabemos, as coisas não podiam ter-lhe corrido melhor.