São centenas de páginas e comprometem muitas pessoas, algumas delas figuras públicas da política e empresários poderosos. Esta quarta-feira, foram divulgados os primeiros documentos judiciais relacionados com o multimilionário Jeffrey Epstein, acusado de abuso sexual e tráfico de menores.
Porquê divulgar estes documentos agora?
Os documentos pretendiam ser sigilosos para manter em segredos os nomes que estavam relacionados com o caso Epstein. Contudo, um processo judicial movido contra Ghislaine Maxwell, amante e parceira de negócios de Epstein, por Virginia Giuffre, uma das principais denunciantes de Epstein, alterou o estado sigiloso dos documentos. No dia 18 de dezembro, a juíza Loretta Preska de Nova Iorque, EUA, decretou que os documentos, que somam cerca de 900 páginas, deveriam ser tornados públicos. Segundo Preska, muitos dos nomes presentes no processo já tinham sido identificados publicamente no julgamento que envolve Maxwell. Contudo, os nomes relacionados com vítimas menores deverão permanecer em sigilo. Os primeiros documentos foram revelados esta quarta-feira, mas espera-se que mais sejam disponibilizados nos próximos dias.
Os nomes mais conhecidos
Os documentos citam cerca de 200 nomes, mas as primeiras páginas libertadas não trazem grandes novidades, já que citam nomes que, já se sabia, estavam envolvidos no caso. Contudo, o mais relevante é a revelação do depoimento de Johanna Sjoberg, uma das meninas que trabalhou para Epstein. Além de mencionar nomes bem conhecidos, refere ainda que Epstein a pressionava para realizar práticas sexuais.
Sjoberg conta que, em 2001, o príncipe André, irmão do rei Carlos III, lhe apalpou uma mama no apartamento de Epstein em Manhattan, enquanto posava para uma fotografia. Anteriormente, o príncipe André tinha também sido acusado por Virginia Giuffre de abuso sexual. Ainda que tenha negado as acusações, o filho de Isabel II chegou a acordo judicial com a acusadora. O Palácio de Buckingham recusa-se a comentar estes novos documentos, referindo que não fala em nome do príncipe André.
No depoimento de Sjoberg «m surge também o nome de Bill Clinton. Esta recorda uma conversa que teve com Epstein no tempo em que trabalhava para o magnata. “Ele disse-me uma vez que o Clinton gosta delas jovens, numa referância às meninas”, lê-se no depoimento. Questionada se Epstein e Clinto eram amigos, Sjoberg respondeu que tinham “negócios” em comum. Em 2019, um porta-voz do ex-presidente norte-americano referiu que Bill Clinton já tinha voado no avião privado de Epstein, mas que nada sabia sobre os crimes de que o magnata era acusado. De facto, o político não foi acusado de nada que estivesse relacionado com o multimilionário.
Donald Trump é outro nome mencionado no depoimento de Johanna Sjoberg. A ex-funcionária de Epstein recorda que num voo no jato privado do magnata os pilotos precisaram de pousar em Atlantic City. Epstein sugeriu então que a paragem fosse aproveitada para contactar Donald Trump. “O Jeffrey disse: Ótimo, vamos ligar ao Trump e vamos – não me lembro o nome do casino, mas – vamos ao casino”, declara Sjoberg. Johanna conta que não teve contacto sexual com Trump. O ex-presidente dos EUA não está relacionado com nenhuma irregularidade no caso Epstein.
Nos documentos judiciais divulgados esta semana surge ainda o nome de Stephen Hawking. O físico é citado num email enviado em 2015 por Epstein a Maxwell. Na altura, o magnata dizia que ia dar uma recompensa a quem provasse que as acusações apresentadas por Giuffre à justiça norte-americana não eram verdadeiras. “Podes dar uma recompensa a qualquer amigo, conhecido ou familiar da Virgina que se apresente e ajude a provar que as alegações dela são falsas. A mais forte é o jantar do Clinton e a história de que Stephen Hawking participou numa orgia com menores”. De facto, o cientista terá estado numa ilha com Epstein em 2006. Até ao momento, não há mais referências ao nome de Hawking, que morreu em 2018.
Também Michael Jackson e David Copperfield são mencionados nos documentos por testemunhas. Ambos terão sido vistos em casas de Epstein, mas não há qualquer relato que os ligue a qualquer atividade criminosa.
Recorde-se que Jeffrey Epstein foi um magnata financeiro que era conhecido por se relacionar com pessoas conhecidas. Em 2005, foi condenado a uma pena de 13 meses condicional por ter tido relações com uma menor de 14 anos, alegadamente num serviço de prostituição. Em 2015, foi acusado de dirigir, juntamente com a amante Meghan Maxwell, uma rede de tráfico sexual com dezenas de jovens menores de idade num processo que teve Virginia Giuffre como uma das principais denunciantes. Em 2019, terá tirado a própria vida na prisão, onde aguardava julgamento. Meghan Maxwell foi condenada em 2021.