A maioria dos cinco milhões de casos de malária que se registaram em 2022, a mais do que os contabilizados em 2021, ocorreram em África, segundo o relatório anual da doença, hoje divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2022, registaram-se 249 milhões de casos de malária em todo o mundo, mais cinco milhões do que em 2021. Destes cinco milhões, 3,2 milhões ocorreram em países africanos: Uganda (0,6 milhões), Nigéria (1,3 milhões) e Etiópia (1,3 milhões). Os restantes aconteceram na Papua-Nova Guiné (0,4 milhões) e Paquistão (2,1 milhões).
A incidência da malária e as taxas de mortalidade aumentaram em todo o mundo na sequência das perturbações nos serviços de combate à doença durante a pandemia da covid-19.
Em 2019, antes da pandemia, o número de casos a nível mundial foi de 233 milhões.
Também o número de mortes por malária em 2022 (608.000) foi mais alto do que em 2019 (576.000).
A região africana da OMS continua a carregar o fardo mais pesado da malária, sendo responsável por 94% de todos os casos (233 milhões) e de 95% de todas as mortes (580.000 mortes).
Cerca de 78% de todas as mortes por malária nesta região atingiu crianças com menos de cinco anos.
Ainda em 2022, quatro países da região – a Nigéria (26,8%), a República Democrática do Congo (12,3%), o Uganda (5,1%) e Moçambique (4,2%) – representavam quase metade de todos os casos de malária a nível mundial.
Quatro países africanos também foram responsáveis por pouco mais de metade de todas as mortes por paludismo no mundo: Nigéria (31,1%), República Democrática do Congo (11,6%), Níger (5,6%) e Tanzânia (4,4%).
O relatório da OMS analisa ainda a evolução dos casos (2,1 mil milhões) e mortes (11,7 milhões) evitados a nível mundial no período 2000-2022.
A maioria dos casos (82%) e mortes (94%) evitados registou-se na região africana da OMS, seguida da região do sudeste asiático.
O documento aborda o impacto das alterações climáticas na doença, sendo estas reconhecidas como “uma das maiores ameaças e desafios para a saúde e o bem-estar humanos, particularmente dos grupos vulneráveis”.
“As alterações climáticas podem ter efeitos diretos e indiretos na transmissão e no fardo da malária”, referem os autores, explicando que “os fenómenos meteorológicos extremos a curto prazo podem levar não só à deslocação de populações e à devastação socioeconómica, como também a grandes epidemias de doenças”, como a malária.
Para além dos fenómenos meteorológicos extremos, outros fatores conduziram a epidemias ou picos significativos da doença, como as ameaças biológicas, as crises humanitárias, a migração e deslocação da população, o financiamento e limitações socioeconómicas.
Todos estes desafios “sublinham a necessidade urgente de adaptar estratégias e afetar recursos à altura da tarefa de controlar e eliminar a malária”, lê-se nas principais conclusões do relatório da OMS.
Entre 2019 e 2022, 41 países onde a malária é endémica sofreram emergências sanitárias, além da covid-19. Muitos destes países registaram aumentos significativos de casos e mortes por malária, e alguns registaram epidemias de paludismo.
Na Etiópia, que vive uma situação de conflito, registou-se um aumento de 1,3 milhões de casos entre 2021 e 2022.
Em Myanmar, a instabilidade política e social levaram a um aumento desta doença, estimando-se um aumento de 78.000 casos em 2019 para 584.000 em 2022.
A Tailândia acusou um aumento do número de casos à medida que as pessoas de Myanmar procuravam cuidados na vizinha Tailândia, levando a uma importação de casos, seguida da propagação local.
Neste país, os casos mais do que duplicaram entre 2021 (2.426 casos) e 2022 (6.263 casos).
Os autores do relatório referem ainda que o Anopheles stephensi, mosquito que transmite a malária, expandiu-se dos seus habitats nativos (Ásia e Arábia) para África.
Identificado pela primeira vez no Djibuti em 2012, tem sido associado a surtos de malária e é difícil de controlar, uma vez que se desenvolve em ambientes urbanos, suporta temperaturas elevadas e é resistente a muitos dos inseticidas usados na saúde pública.
Depois de Djibouti, foi registado no Sudão (2016), Somália (2019), Etiópia (2016), Nigéria (2020), Gana (2022) e Quénia (2022).
Segundo a OMS, Timor-Leste e a Arábia Saudita registaram zero casos autóctones em 2022, enquanto o Butão e o Suriname registaram zero casos indígenas, pela primeira vez.
Os autores consideram que o objetivo de um mundo livre de malária ainda está longe de ser alcançado. Por isso, defendem “uma viragem substancial para voltar ao caminho certo, com um financiamento muito maior, melhores ferramentas, estratégias baseadas em dados e um forte empenhamento político”.
Em 2022, o investimento global na investigação e desenvolvimento de produtos contra a malária caiu para 603 milhões de dólares (cerca de 549 milhões de euros), o que representou “a queda mais acentuada de sempre”: Menos 73 milhões de dólares (cerca de 66,5 milhões de euros) do que em 2021, o financiamento mais baixo nos últimos 15 anos.
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