Os islandeses acordaram com notícias, apresentadas exclusivamente por homens, a anunciar encerramentos em todo o país insular: escolas fechadas, transportes públicos atrasados, hospitais com falta de pessoal e quartos de hotel por limpar.
A primeira-ministra, Katrin Jakobsdóttir, avisou que ficará hoje em casa no âmbito da greve das mulheres — “kvennaverkfal” em islandês — e disse esperar que outras mulheres no seu Governo façam o mesmo.
Os sindicatos da Islândia, os principais organizadores da greve, apelaram às mulheres e às pessoas não binárias para que recusem qualquer trabalho remunerado e não remunerado, incluindo tarefas domésticas, durante o dia.
Cerca de 90% dos trabalhadores islandeses pertencem a um sindicato.
As escolas e o sistema de saúde, que têm uma força de trabalho dominada por mulheres, disseram estar a ser fortemente afetados pela paralisação, enquanto a estação nacional RUV avisou que reduziu as transmissões de televisão e rádio.
A paralisação, que dura da meia-noite à meia-noite, já foi considerada a maior desde o primeiro evento desse tipo na Islândia, em 24 de outubro de 1975, quando 90% das mulheres se recusaram a trabalhar, limpar ou cuidar dos filhos, para expressar raiva pela discriminação laboral no país.
Em 1976, a Islândia aprovou uma lei que garante direitos iguais, independentemente do género e, desde então, registaram-se várias greves de partes de dias.
Mais recentemente, em 2018, as mulheres abandonaram o trabalho no início da tarde, simbolizando a altura do dia em que a média das mulheres deixa de ganhar dinheiro em comparação com os homens.
A Islândia, uma ilha com cerca de 380 mil habitantes situada imediatamente abaixo do Círculo Polar Ártico, foi classificada durante 14 anos consecutivos como o país com maior igualdade de género no mundo pelo Fórum Económico Mundial, que mede salários, educação, cuidados de saúde e outros fatores.
Nenhum país alcançou a igualdade total e continuam a existir disparidades salariais entre homens e mulheres na Islândia.
“Ainda não atingimos os nossos objetivos de plena igualdade de género e ainda estamos a combater a disparidade salarial baseada no género, que é inaceitável em 2023”, afirmou a primeira-ministra a um ‘site’.
“Ainda estamos a combater a violência baseada no género, [medida] que tem sido uma prioridade do meu Governo”, adiantou Katrin Jakobsdóttir.
O Governo do país está dividido igualmente entre ministros e ministras, e quase metade dos deputados são mulheres.
No entanto, embora as mulheres na Islândia tenham conseguido quebrar tabus e chegado a cargos de topo – desde bispos a líderes da associação nacional de luta livre –, continuam a ser a maioria dos trabalhadores nos empregos com salários mais baixos, como limpeza e cuidados infantis.
A economia da Islândia é dominada pelo turismo e depende fortemente dos migrantes, que, no seu conjunto, trabalham mais horas e levam para casa os salários mais baixos.
Cerca de 22% da força de trabalho feminina nasceu no estrangeiro, de acordo com o gabinete de estatísticas da Islândia.
Grandes partes do centro da capital, Reiquiavique, vão ser fechadas ao trânsito antes de uma grande manifestação marcada para esta tarde.
Cartazes de protesto divulgados nas redes sociais contestam a ideia de que a Islândia já é um paraíso para as mulheres com o ‘slogan’ “Chamam a isto igualdade de género?”.
A greve de 1975 na Islândia inspirou protestos semelhantes noutros países, incluindo na Polónia, onde as mulheres boicotaram empregos e aulas em 2016 para protestar contra uma proposta de proibição do aborto, e Espanha, onde as mulheres realizaram uma greve de 24 horas em 2018, no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – sob o lema “Se pararmos, o mundo para”.
PMC // APN