Em causa está o modelo Mate 60 Pro da Huawei, cuja velocidade atinge 350 ‘megabits’ por segundo, o mesmo nível dos iPhones da norte-americana Apple. A capacidade de processamento deve-se à utilização do ‘chip’ Kirin 9000, alegadamente fornecido pela estatal chinesa Semiconductor Manufacturing International Corp (SMIC), cujas ações na Bolsa de Valores de Hong Kong dispararam 20%, desde o lançamento do dispositivo, na semana passada.
A SMIC terá assim desenvolvido capacidades para usar litografia ultravioleta profunda no fabrico de ‘chips’ de sete nanómetros, a medida do tamanho dos transístores dentro dos processadores.
Analistas sugerem ainda que o Kirin 9000s pode ter sido fabricado pelo grupo taiwanês TSMC, antes de os controlos de exportação dos EUA terem entrado em vigor, em setembro de 2020.
O dispositivo da Huawei deve assim desencadear nova ronda de investigações por parte de Washington e intensificar a guerra tecnológica em curso entre Estados Unidos e China.
As fabricantes de semicondutores dos Estados Unidos, incluindo Qualcomm e Nvidia, têm advertido para o efeito adverso das restrições comerciais de Washington, que obrigam a China a desenvolver autossuficiência tecnológica e prejudicam os interesses comerciais das empresas norte-americanas.
Desde 2019, Washington restringiu o acesso da SMIC, com sede em Xangai, a sistemas de litografia ultravioleta extrema, o equipamento de fabrico de ‘chips’ mais avançado do mundo, produzido exclusivamente pela empresa holandesa ASML Holding.
Num relatório, Tilly Zhang, analista da empresa de pesquisa Gavekal Dragonomics, considerou que o “mais provável” é que a SMIC tenha usado equipamento de litografia ultravioleta profunda para fabricar o novo processador Kirin 9000s, usado no Mate 60 Pro da Huawei.
Zhang também sugeriu a possibilidade de o Kirin 9000 ter vindo de reservas secretas de ‘chips’ avançados, criadas pela unidade de desenvolvimento de ‘chips’ da Huawei, a HiSilicon, antes da entrada em vigor das sanções dos EUA.
Em maio de 2019, o Departamento de Comércio dos EUA proibiu a Huawei de adquirir tecnologia norte-americana e pediu ao governo holandês que proibisse as exportações para a China da tecnologia de litografia ultravioleta extrema mais avançada da ASML.
Em setembro de 2020, a TSMC de Taiwan parou de produzir os Kirin para a empresa sediada em Shenzhen.
Em outubro passado, os EUA impuseram controlos de exportação de ‘chips’ para a China e proibiram cidadãos norte-americanos de fornecer serviços a fabricantes de semicondutores chineses.
Mas lacunas persistem nas restrições norte-americanas.
O atual presidente executivo da SMIC, Liang Song-Mong, ex-executivo da TSMC e da sul-coreana Samsung, continuou a trabalhar para a SMIC, já que não é cidadão norte-americano, mas sim taiwanês.
No início do ano, a imprensa de Taiwan informou também que a Huawei e a SMIC começaram a adquirir equipamento para litografia ultravioleta extrema em segunda mão no mercado interno.
Mike Gallagher, o presidente do novo comité da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos para o Partido Comunista Chinês, defendeu hoje que o Departamento de Comércio dos EUA deve encerrar todas as exportações de tecnologia para a Huawei e SMIC, acusando as empresas de terem violado as restrições comerciais em vigor.
“Este ‘chip’ provavelmente não poderia ter sido produzido sem tecnologia dos EUA e, portanto, a SMIC pode ter violado a Regra de Produto Direto Estrangeiro do Departamento de Comércio”, disse Gallagher, em comunicado. “Está na hora de acabar com todas as exportações de tecnologia dos EUA para a Huawei e SMIC”, frisou.
As restrições comerciais impostas à Huawei e à SMIC incluem a Regra de Produto Direto Estrangeiro, destinada a impedir qualquer empresa em qualquer lugar do mundo de usar ferramentas dos Estados Unidos para fabricar ‘chip’ para a Huawei.
No entanto, fornecedores estrangeiros da Huawei e da SMIC terão recebido licenças de excepção no valor de milhares de milhões de dólares para vender tecnologia norte-americana à duas empresas.
JPI // APN