“A decisão de impor o regime de vistos foi tomada devido ao aumento contínuo e significativo do número de cidadãos timorenses que não tencionam efetuar uma visita de curta duração, mas que, em vez disso, entram como visitantes não genuínos, com a intenção de trabalhar ilegalmente no Reino Unido e, muitas vezes, alegam de forma fraudulenta que estão a cargo de cidadãos da UE [União Europeia] com estatuto de residentes no Reino Unido”, explica um comunicado divulgado pela embaixada.
A decisão, argumenta ainda a diplomacia britânica, “alinha-se com a prática atual dos parceiros internacionais” do Reino Unido, “incluindo a Irlanda, Estados Unidos, Canadá e a Nova Zelândia”.
As alterações, que entram em vigor imediatamente, aplicam-se a todos os cidadãos timorenses que pretendam entrar no Reino Unido, sendo que Londres concede um “período de transição de quatro semanas”, até às 15:00 GMT (mais uma hora em Lisboa) de 16 de agosto a todos os visitantes que reservaram a sua viagem antes das 15:00 TMG de hoje.
Os pedidos de visto são apresentados e pagos online em www.gov.uk/apply-to-come-to-the-uk, após o que os requerentes serão entrevistados num centro de pedidos de visto, onde fornecerão os dados biométricos e apresentarão um passaporte válido.
O Reino Unido tem como objetivo responder aos pedidos de visto num prazo de 15 dias úteis a contar da data de receção do passaporte e dos dados biométricos e os requerentes podem apresentar o pedido até três meses de antecedência, de acordo com a embaixada britânica na capital indonésia, responsável também pelas questões diplomáticas com Timor-Leste.
Os visitantes timorenses que já se encontrem no Reino Unido não serão afetados pelo novo requisito durante o resto da sua visita, mas assim que deixarem o Reino Unido, precisarão de um visto de visitante para entrar novamente neste país.
De acordo com o embaixador britânico na Indonésia e em Timor-Leste, Owen Jenkins, citado no comunicado, “as alterações anunciadas hoje colocam Timor-Leste em linha com muitos outros países com os quais o Reino Unido tem relações fortes e amigáveis”, como é o caso das Honduras, a cujos nacionais a imposição de visto foi também hoje anunciada.
O diplomata acrescenta que Londres “está atualmente a intensificar a sua cooperação para o desenvolvimento com Timor-Leste, enquanto país com necessidades prementes e em apoio à sua adesão à ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]”.
“Estamos a explorar oportunidades para apoiar Timor-Leste em vários setores, particularmente no desenvolvimento económico, saúde e nutrição, e adaptação e resiliência climática”, acrescentou Jenkins.
Portugal tem sido a porta de entrada na Europa de muitos timorenses, que acabam por não ficar no país. De acordo com dados recolhidos pela Lusa em abril último, no ano passado entraram em Portugal 6.814 timorenses e saíram 5.135. Só no primeiro trimestre deste ano, chegaram a Portugal 731 cidadãos timorenses e saíram 581. Neste período, 50 timorenses saíram de Portugal com o objetivo de entrar no Reino Unido, tendo-lhes sido barrada a entrada.
De acordo com o Ministério do Interior britânico, em 23 de fevereiro último, no terceiro trimestre de 2022 foi barrada a entrada de 359 timorenses em território britânico, mais de metade dos quais homens entre os 18 e 29 anos. O número correspondia a quase o dobro dos 189 registados no trimestre anterior, entre abril e junho. Um ano antes, no terceiro trimestre de 2021, apenas quatro timorenses tinham sido impedidos de entrar no Reino Unido.
Segundo a Organização Internacional das Migrações (OIM), num relatório também publicado em abril último, o número de timorenses a residir fora do país ascendia a cerca de 50 mil, a grande maioria na Austrália, Indonésia e Reino Unido. O estudo confirmava então a crescente importância das remessas de emigrantes timorenses para as respetivas famílias, com os valores a crescerem de forma constante desde 2013 — passaram de 34 milhões nesse ano para cerca de 170 milhões em 2022.
Cerca de 96% das remessas, referia a organização, são provenientes das comunidades timorenses residentes na Austrália, Reino Unido e Coreia do Sul.
APL (ASP/BM/SMM) // JH