O Laboratório Nacional de Saúde Pública, em Cartum, a capital sudanesa, foi tomado pelas forças paramilitares de apoio rápido (RSF, na sigla em inglês), em conflito com o exército pelo controlo do país desde 15 de abril. Os confrontos já provocaram cerca de 500 mortos, mais de 4 mil feridos e dezenas de milhares de deslocados, de acordo com as Nações Unidas.
Um cessar-fogo de 72 horas entre as partes beligerantes, mediado pelos Estados Unidos, trouxe alguma calma a Cartum, mas testemunhas relataram já o regresso dos ataques aéreos e combates e a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para um “enorme risco biológico” na sequência da entrada dos combatentes da RSF no laboratório onde estão guardadas amostras de agentes patogénicos, como os causadores da poliomielite, do sarampo e da cólera, e outro material biológico. Nina Saeed Abid, representante da ONU no Sudão, descreve a situação como “extremamente perigosa”.
Em comunicado, a OMS explica que “os técnicos de laboratório já não têm acesso” às instalações e que tem havido cortes de energia, o que significa “que não é possível lidar de forma adequada com os materiais biológicos armazenados para fins médicos”. A falta de eletricidade também compromete o armazenamento as unidades de sangue, segundo o diretor-geral do laboratório.
Uma fonte médica ouvida pela CNN adianta que o maior perigo é que se desencadeie um confronto armado dentro do edifício “porque isso vai transformar o laboratório numa bomba biológica”.
Os violentos combates no Sudão, iniciados no dia 15, opõem forças do general Abdel Fattah al-Burhan, líder de facto do país desde o golpe de Estado de 2021, e um ex-adjunto que se tornou um rival, o general Mohamed Hamdan Dagalo, que comanda o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Os confrontos começaram devido a divergências sobre a reforma do exército e a integração das RSF no exército, parte do processo político para a democracia no Sudão após o golpe de Estado de 2021.
De acordo com a secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, mesmo antes do conflito as necessidades humanitárias no Sudão já estavam num nível recorde, com 15,8 milhões de pessoas – um terço da população – a precisarem de ajuda humanitária.
“Quatro milhões de crianças e mulheres grávidas e lactantes estavam desnutridas. 3,7 milhões de pessoas foram deslocadas internamente. Este conflito […] ameaça desencadear uma onda inteiramente nova de desafios humanitários”, disse Msuya, na reunião de terça-feira do Conselho de Segurança.