Um dos ditados mais conhecidos da economia global é que, quando os EUA espirram, o resto do mundo constipa-se. Mas essa máxima aplica-se também, e cada vez mais, à China. Na última década e meia, o gigante asiático tornou-se na fábrica do mundo e num mercado essencial para as grandes cadeias de produção mundiais. Esta ascensão foi possível com a abertura do Império do Meio ao Ocidente, preconizada há mais de quatro décadas pelo então líder Deng Xiaoping. Porém, a recente visita de Xi Jinping a Putin, enquadrada na “parceria estratégia” e “cooperação sem limites” entre Pequim e Moscovo, a retórica mais agressiva entre a China e os EUA e a troca de sanções entre dirigentes chineses e europeus, por causa da perseguição aos uigures, são alguns dos fortes sinais de que já entrámos numa nova era marcada pela desconfiança.
À medida que a dureza dos discursos vai aumentando, cresce também o risco de as relações comerciais com a China esfriarem. Estará o Ocidente – em particular o Velho Continente – preparado para isso? Este é um cenário que, à partida, todos têm interesse em evitar. No entanto, a invasão russa da Ucrânia é um exemplo bem recente de que a doutrina de integração económica para apaziguar tensões geopolíticas e ímpetos belicistas nem sempre é eficaz. O regime de Pequim tem feito um número de equilibrismo em cima do muro que separa o Ocidente de Moscovo, aumentando a sua preponderância na Rússia e aproveitando os recursos desse país. Além disso, tem estendido a influência na América do Sul, África e no Médio Oriente, ao mesmo tempo que tenta fomentar a utilização do yuan em trocas comerciais, em substituição do dólar. Do outro lado, segundo a Reuters, os EUA têm tentado garantir apoios no G7 para lançar novas sanções à economia chinesa, como forma de penalizar Pequim pelo seu apoio a Putin.