A 6 de fevereiro de 1952, uma quarta-feira que parecia igual a tantas outras e numa época em que o Império britânico ainda se estendia por vários continentes, a notícia colheu a todos de surpresa: o rei Jorge VI tinha sido encontrado morto, na sua cama, às 7 e 15 da manhã e, segundo as regras de sucessão, o trono passou imediatamente para a sua filha mais velha, Isabel, de 25 anos, que se encontrava, então, de viagem no Quénia.
A notícia ocupou logo as primeiras páginas das edições vespertinas dos jornais ou, devido à diferença de fuso horário, as matutinas dos dias seguintes. Entre os órgãos britânicos foi visível, apesar do acontecimento inesperado, a preocupação em sublinhar a continuidade da monarquia. No fundo, seguindo um princípio que se resume ao de uma frase que, agora, todos conhecemos e voltámos a recordar: O Rei morreu, viva a Rainha!
Essa preocupação foi bem visível na primeira página do Daily Mail, na edição de 7 de fevereiro, em que por cima da fotografia do rei morto aparecia um título principal a toda a largura a dar visibilidade à nova era que então se iniciava: “A Rainha voa para casa”. Só por baixo se davam os factos então já conhecidos de todos, na véspera, nomeadamente a hora em que o monarca tinha sido encontrado sem vida e alguns pormenores sobre o seu funeral.
Sem fotos e apenas com títulos e texto, o vespertino Evening Standard tinha ocupado, logo no póprio dia 6 de fevereiro, toda a sua primeira página com a morte do rei. Com um título simples e informativo, que podia ser hoje lido no Twitter: “O Rei morreu. Final sereno durante o sono”. Pelo grafismo, num tempo em que não existiam computadores para alterar a paginação com um toque no teclado, percebe-se que a notícia teve de ser encaixada à última hora. E apenas com a pouca informação existente, toda ela “despejada” na primeira página, sem referência a um qualquer desenvolvimento no interior.
Curiosamente, logo no próprio dia, em Portugal, o Diário de Lisboa conseguiu ser mais informativo, numa época em que os vespertinos fechavam a edição por volta das 14 ou 15 horas e, por terem as rotativas no mesmo edifício do Bairro Alto, começavam a ser distribuídos pelos ardinas nas ruas da cidade logo uma hora depois. Toda a primeira página do diário dirigido por Joaquim Manso foi dedicado ao assunto, ilustrada com as fotos de Jorge VI e de Isabel II e um título principal puramente informativo : “Jorge VI faleceu esta madrugada. Recolhera ontem, à hora habitual, aos seus aposentos e nada fazia prever o triste desenlace”. Depois, o jornal apresenta o perfil da “nova rainha de Inglaterra” e faz um balanço curioso, especialmente para a época, sobre os anos do monarca falecido: “A Grã-Bretanha fez-se socialista durante o reinado de Jorge VI e o Império tomou a forma de uma comunidade de nações”. No canto inferior direito surge uma nota a dar conta que Salazar foi à embaixada britânica apresentar as condolências…
As informações chamadas à primeira página pelo Diário de Lisboa foram, curiosamente, mais ou menos as mesmas que, do outro lado do Atlântico e na manhã seguinte, o The New York Times chamou para a sua front page, igualmente com as fotografias dos dois monarcas. O jornal norte-americano lembra, no entanto, logo na primeira página que, a partir desse momento, o filho de 3 anos de Isabel passou a ser o príncipe herdeiro – o mesmo que é hoje, 70 anos depois, o rei Carlos III.
Outras primeiras páginas de fevereiro de 1952