* António Sampaio, enviado da agência Lusa *
O Presidente da República timorense mostrou-se hoje convicto num acordo para o desenvolvimento do Greater Sunrise, com um gasoduto para a costa sul de Timor-Leste, pedindo a Camberra “pragmatismo” para avançar no projeto.
“Sei que isto é responsabilidade do consórcio [do Greater Sunrise] mas espero que o Governo Federal possa apoiar a levar este gasoduto para Timor-Leste, que é a melhor opção para a Austrália, para Timor-Leste”, disse hoje José Ramos-Horta numa intervenção no National Press Club, na capital australiana, Camberra.
“A Austrália contribuiria assim para uma economia timorense muito dinâmica nos próximos anos. Nem tudo na vida são números. Os números são importantes na economia e no desenvolvimento, mas isso tem que ser combinado com compaixão, visão, coração”, disse.
Apelando diretamente ao chefe do Governo, Anthony Albanese, com quem se reuniu hoje, no âmbito de uma visita de Estado à Austrália, Ramos-Horta disse que os líderes australianos devem olhar para o assunto com “pragmatismo” e com o mesmo espírito que levou Camberra a recuar na postura antiga sobre as fronteiras e aceitar um acordo com Díli.
Ramos-Horta voltou a defender a viabilidade técnica do projeto e os benefícios económicos para Timor-Leste que estimou em “100 mil milhões de dólares”, praticamente o mesmo em euro, metade diretos e metade de efeitos adicionais na economia timorense.
José Ramos-Horta foi hoje o convidado de honra no National Press Club em Camberra, na sua quarta intervenção na organização e onde regressou hoje como Presidente de Timor-Leste.
Durante a sua intervenção, Ramos-Horta apelou ao apoio da Austrália para ajudar a fortalecer as capacidades de Timor-Leste para “poder beneficiar das oportunidades e responder aos desafios” da adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
“Provavelmente vamos juntar-nos à ASEAN em 2023, completando a família de nações do sudeste asiático, o que oferece grandes oportunidades para Timor-Leste e para a sua comunidade. Seremos 1,5 milhões, no seio de uma economia de 700 milhões de pessoas”, disse.
“Sempre acreditei em acordos de comércio livre, mas para poder beneficiar precisamos de mais apoio da Austrália para nos ajudar perante as novas oportunidades e desafios dessa adesão”, afirmou Ramos-Horta.
“Temos que rever o nosso Plano Estratégico, no quadro das novas realidades. Esperamos que a Austrália nos forneça apoio, peritos para explorar estas oportunidades”, disse.
Numa intervenção marcada por várias histórias do passado e em que foi repetidamente questionado sobre o projeto do Greater Sunrise e sobre o posicionamento da China na região, Ramos-Horta referiu-se aos progressos dados por Timor-Leste desde a restauração da independência.
“Quem esteve em Timor há 20 anos viu a devastação física, mas talvez não tenha visto o trauma do conflito, o desespero de pessoas desalojadas, o impacto psicológico, o rancor e a frustração”, disse.
“Primeiro tivemos que curar as feridas das pessoas, as feridas da alma e do coração, que não se veem, mas que notamos nos olhos das pessoas e depois como construir um Estado a partir de cinzas, que não existia antes”, relembrou o Presidente.
Considerando a independência um “produto da tenacidade do povo timorense e da solidariedade internacional”, disse que o país é “um oásis de tranquilidade”, sem violência política ou étnica e “quase sem crime organizado”.
“Talvez porque somos um bocado desorganizados e por isso os nossos criminosos também são desorganizados”, ironizou.
O chefe de Estado referiu-se aos “enormes desafios dos próximos 10 anos”, tanto para Timor-Leste como para a região, com “riscos e perigos” como a “militarização do mar do sul da China, e tensões em torno a Taiwan”.
Admitindo que no passado duvidou da viabilidade técnico do projeto, Ramos-Horta disse que sucessivos estudos mostram o contrário, notando que o Greater Sunrise está a 500 quilómetros de Darwin e a apenas 200 de Timor-Leste e apontando os custos mais reduzidos de canalizar o projeto para Timor-Leste.
“Não entendo as considerações económicas do consórcio em insistir em levar o gasoduto para Darwin. Temos um primeiro-ministro fantástico neste país, que conheço bem e estamos contentes com a nova linha de declarações da CEO da Woodside”, disse, referindo-se ao parceiro da Timor Gap e da Osaka Gás no projeto.
“Parece haver um clima positivo para avançar no desenvolvimento do Greater Sunrise”, disse Ramos-Horta.
“Peço a líderes australianos que quando olhem para Timor-Leste, abram o mapa e olhem para Timor-Leste como parte do grande plano estratégico australiano e que Timor-Leste olhe para a Austrália como parte do nosso plano estratégico”, referiu.
A Austrália disse, “deve fazer tudo para suster esse país pelo qual muitos australianos deram a vida”, recordando as mortes de australianos em Timor-Leste na Segunda Guerra Mundial.
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