“É uma situação lamentável e acho que as coisas não precisavam chegar a este extremo. Entretanto a lei tem de ser cumprida. Mas pelo trabalho notório que o técnico tem feito, é claro que haverá sempre espaço para que ele trabalhe em Moçambique, logo que ele tiver a sua situação regularizada”, disse à Lusa Gilberto Mendes.
Em causa está a detenção e a decisão de repatriamento do treinador português de atletismo Alberto Lário, uma figura de referência para novas gerações do atletismo em Moçambique e que conseguiu colocar a moçambicana Verónica José entre as melhores atletas mundiais em juniores femininos, o que valeu à atleta a qualificação para o campeonato mundial de sub-20 em Cali, Colômbia, que arranca no início de agosto.
Alberto Lário, que nasceu em Moçambique e vive no país há vários anos, foi detido na tarde de terça-feira, alegadamente por existirem irregularidades na sua documentação e hoje as autoridades moçambicanas anunciaram que o técnico seria deportado para Portugal.
Segundo os Serviços de Migração de Moçambique, Alberto Lário está em situação de irregularidade desde 2019, ano em que o seu Documento de Identificação de Residentes Estrangeiros (DIRE) teve o seu prazo expirado.
Para o secretário de Estado do Desporto de Moçambique, a participação da atleta oriunda da província de Tete, centro de Moçambique, no campeonato do mundo sem o seu treinador será também lamentável, mas garante que não faltará apoio para a corredora, que neste momento vive na casa de Alberto Lário em Maputo, juntamente com outros três atletas que o técnico apoia.
“Nós vamos apoiar os nossos atletas. Temos casas na Vila Olímpica que podem ser usadas por estes atletas”, explicou Gilberto Mendes.
O técnico português alega possuir há mais de seis anos um pedido de nacionalidade “pendente”, mas o Serviço de Migração de Moçambique considera que o treinador devia ter levantado a questão junto das autoridades às quais submeteu o requerimento, acrescentando que não há nenhuma prova deste pedido.
A detenção do treinador, que resultou de uma denúncia feita pelo presidente da Federação Moçambicana de Atletismo, Kamal Badrú, está a gerar indignação entre os atletas moçambicanos, que hoje decidiram organizar uma marcha até ao edifício do Serviço de Migração de Moçambique, exigindo a libertação de “coach Lário”, como é popularmente conhecido.
Em nota enviada hoje à Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal disse que está a acompanhar o caso, através do Consulado Geral em Maputo, que contactou Alberto Lário logo que tomou conhecimento para “disponibilizar apoio”.
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