As manchetes dos tabloides britânicos costumam ser um excelente barómetro do que se passa no Reino Unido. Na última terça-feira, 12, a par da trágica história de sir Mo Farah, o mítico atleta e campeão olímpico cujo nome verdadeiro é Hussein Abdi Kahin e que confessou ter sido sequestrado e abusado na infância, as primeiras páginas davam destaque a uma anormal vaga de calor. As temperaturas elevadas levaram o Daily Star a titular que o país está “Quente como o Vale da Morte”, comparando-o ao inóspito parque nacional californiano e ao deserto de Mojave. Com os termómetros acima dos 30ºC, as autoridades no Centro e no Sul de Inglaterra já admitem que poderá faltar água e haver cortes de eletricidade em muitas localidades. As terras de Isabel II estão em brasa, mas isso não se deve apenas às surpresas meteorológicas e às mudanças climáticas.
Os efeitos do Brexit, da pandemia e da guerra na Ucrânia, combinados com uma vaga de greves e as disfuncionalidades do número 10 de Downing Street – residência oficial do primeiro-ministro Boris Johnson – estão a provocar uma tempestade perfeita que leva os média e os analistas a falarem em “paralisia institucional” e “verão do descontentamento”.