“Exigimos ser ouvidos”, sublinharam as comunidades Massai afetadas, durante a quarta e última ronda de negociações sobre o projeto de Quadro Global de Biodiversidade, que se realiza esta semana na capital queniana e que reuniu centenas de representantes de países de todo o mundo.
“As nossas terras em Loliondo [norte da Tanzânia] estão a ser-nos retiradas sem consulta e sem o nosso consentimento”, reclamaram.
No início deste mês, as autoridades tanzanianas anunciaram a sua intenção de criar uma nova reserva de vida selvagem na divisão Loliondo do distrito de Ngorongoro (norte), o que resultaria na deslocação forçada de mais de 70.000 Massai.
As comunidades Massai organizaram protestos em massa e as forças de segurança dispararam gás lacrimogéneo e munições para os dispersar, ferindo dezenas de pessoas, disse um advogado de direitos humanos, Joseph Oleshangay, à agência de notícias Efe.
Pelo menos duas pessoas – um polícia e um manifestante – foram mortas.
Desde então, vários milhares de pessoas, incluindo mais de 1.500 crianças, foram expulsas das suas casas pela ofensiva das forças de segurança tanzanianas, afirmaram os Massai.
“A nossa pátria tornou-se um parque de caça, com pessoas ricas a virem caçar animais selvagens (…) As armas estão agora viradas contra nós, que desde tempos imemoriais cuidamos do ambiente e partilhamos harmonia, comida e paz com a vida selvagem”, lamentaram.
“Não somos contra a conservação, mas observamo-la e conceptualizamo-la a partir de uma perspetiva diferente! Nunca nos foi dado espaço para partilhar o nosso ponto de vista, e fomos categorizados como inimigos, como pessoas que não devem ser consultadas”, acrescentaram.
A Otterlo Business Company (OBC), sediada nos Emirados Árabes Unidos, demonstrou em várias ocasiões interesse em criar e gerir uma nova reserva de vida selvagem na divisão de Loliondo de mais de 1.500 quilómetros quadrados, com o objetivo de organizar safaris de caça.
No entanto, as comunidades Massai conseguiram suspender esses planos em 2018, quando, após levar este caso ao Tribunal de Justiça da África Oriental (EACJ), os juízes proibiram o Governo tanzaniano de deslocar as pessoas que lá viviam até que emitisse o seu veredicto final.
Os Massai pediram hoje o apoio da “comunidade internacional” para se juntarem a eles pressionando o Governo da Tanzânia a “retirar o exército” das terras que habitam há várias gerações e a “iniciar um diálogo em condições de igualdade”.
A Tanzânia anunciou na quarta-feira uma operação contra “imigrantes ilegais” em Loliondo, no norte do país, suspeitando que os Massai quenianos cruzam a fronteira para ajudar a comunidade local que se opõe à criação de uma área natural protegida.
O Governo afirma querer simplesmente proteger da atividade humana 1.500 quilómetros quadrados dos 4.000 quilómetros quadrados desta região localizada entre a fronteira com o Quénia, o parque Serengeti e a Reserva Natural de Ngorongoro.
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