A Rússia acusou hoje a União Europeia (UE) de encorajar uma escalada de tensões com as restrições à passagem de bens através da Lituânia para o enclave de Kaliningrado e ameaçou com represálias.
“Exigimos uma restauração imediata do trânsito para Kaliningrado. Caso contrário, seguir-se-ão represálias”, disse a diplomacia russa numa declaração, após ter convocado o embaixador da UE em Moscovo para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, segundo a agência francesa AFP.
A Lituânia suspendeu, no fim de semana, a autorização de trânsito de produtos em aço e outros metais pelo seu território para o enclave russo de Kaliningrado, no âmbito das sanções decretadas pela UE contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
As autoridades russas reagiram com dureza e, depois de a Lituânia ter reafirmado que a decisão decorre da aplicação das sanções de Bruxelas, convocaram o chefe da UE em Moscovo, o diplomata alemão Markus Ederer, para formalizar um protesto.
Numa declaração divulgada pela agência russa TASS, a porta-voz da diplomacia de Moscovo, Maria Zakharova, avisou hoje a Lituânia de que se a Rússia caracteriza as ações de outro Estado como abertamente hostis, isso implica uma “reação correspondente”
Separadamente, o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, afirmou hoje, durante uma visita a Kaliningrado, que a Rússia irá retaliar com medidas que terão “graves consequências negativas” para os lituanos.
“A Rússia, é claro, reagirá a tais atos hostis. Medidas apropriadas estão a ser elaboradas a nível interministerial e serão adotadas em breve. Elas terão graves consequências negativas para o povo da Lituânia”, disse Patrushev, citado pela agência espanhola EFE.
Com cerca de 430.000 habitantes, Kaliningrado é um enclave russo no Báltico que faz fronteira com dois países da UE e da NATO, a Lituânia e a Polónia.
Os comboios com mercadorias para Kaliningrado viajam via Bielorrússia e Lituânia, não havendo trânsito através da Polónia.
A Rússia ainda pode fornecer bens ao enclave por via marítima sem incorrer em sanções da UE.
O ministro dos Negócios Estrangeiros lituano, Gabrielius Landsbergis, reafirmou, na segunda-feira, no Luxemburgo, que a medida do seu Governo decorre das sanções da UE.
“Esta não é uma decisão da Lituânia. Trata-se de sanções europeias que entraram em vigor a 17 de junho, e os caminhos-de-ferro estão agora a aplicar as sanções”, disse Landsbergis.
Também na segunda-feira, o chefe da diplomacia da UE, o diplomata espanhol Josep Borrell, negou que tenha sido imposto um bloqueio ao enclave russo.
“O trânsito terrestre entre a Rússia e Kaliningrado não foi interrompido nem proibido. O trânsito de passageiros e mercadorias continua. Não há bloqueio”, disse Borrel.
A UE e vários países, como Estados Unidos, Reino Unido ou Japão, têm decretado sucessivos pacotes de sanções contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia.
A UE disse ter tido o cuidado de não prejudicar a população russa com os seus pacotes de medidas e excluiu produtos relacionados com saúde, alimentação e agricultura.
As proibições são aplicadas pelas autoridades aduaneiras da UE.
Além das sanções, os aliados ocidentais também têm fornecido armamento às forças ucranianas para combaterem as forças russas.
Portugal mantém 146 fuzileiros na Lituânia integrados numa força da NATO para garantir segurança às populações face a uma potencial agressão.
PNG (ANP) // SCA