A carne suína é utilizada em vários produtos do McDonald’s e o acionista Carl Icahn, conhecido pelas suas denúncias passadas contra outras empresas, CEOs e conselhos de administração, já adjetivou o tratamento dado a estes animais como sendo “obsceno”. Um dos problemas que está em causa é a utilização de caixas conhecidas como gaiolas de gestação onde são colocadas porcas grávidas para que não se possam mover.
“Realmente, sinto-me emocionado com estes animais e com o sofrimento desnecessário a que estão a ser submetidos”, refere Icahn, acrescentando que as gaiolas de gestação não eram tão pequenas há 20 ou 30 anos.
A problemática das gaiolas de gestação remonta a 2012, quando a cadeia de fast-food fez as primeiras promessas para eliminar gradualmente este tipo de instalações, já muito atacadas por ativistas de defesa dos direitos dos animais, e que segundo Icahn, não terão sido cumpridas. Em resposta ao The Wall Street Journal, o empresário explicou que alguns dos fornecedores de suínos da empresa moviam as porcas apenas quatro a seis semanas depois de confirmarem a sua gravidez, mantendo-as, durante esse período, nas gaiolas.
O empresário é conhecido pelas suas denúncias passadas contra outras empresas, CEOs e conselhos de administração. Desta vez, no foco da sua acusação está o McDonald’s. Ichan é detentor, segundo a própria empresa, de 200 ações da cadeia de restaurantes, uma participação relativamente pequena, mas que não impediu a empresa de emitir um comunicado a confirmar um passo que reforça a luta do acionalista: Icahn nomeou Leslie Samuelrich e Maisie Ganzler para concorrer às eleições da Reunião Anual de 2022.
Ambas as candidatas de Ichan ocupam posições de destaque na área da sustentabilidade. Leslie Samuelrich lidera a Green Century Capital Management e faz parte da diretoria do Fórum da Sustentabilidade, tendo sido em 2020 nomeada uma das “43 Mulheres a Mudar o Mundo com Negócios Conscientes”, segundo o site da sua empresa. Maisie Ganzler é diretora de estratégia e marca da Bon Appétit Management Company e tem sido um contributo essencial no desenvolvimento sustentável da empresa, de acordo com o site da mesma.
“Agora paramos de brincar”, disse o acionista, acrescentando que está pronto para reagir e “90%” preparado para propor candidatos para o conselho de administração.
A resposta
Em resposta às propostas de candidatura de Carl Icahn, o McDonald’s referiu que “avaliará os indicados como faria com quaisquer outros candidatos propostos”. No tópico das suas acusações, a empresa reforçou ser “líder” nas questões do bem-estar animal no fornecimento de carne suína.
A empresa alega ainda que em 2012 se terá tornado “a primeira grande marca a assumir o compromisso de adquirir produtos de produtores que não usam gaiolas de gestação para porcas grávidas” e que, apesar da acusação de Ichan, “o McDonald’s liderou o setor e, hoje, estima-se que 30 a 35% da produção de carne suína dos EUA tenha mudado para sistemas de alojamento em grupo”, que correspondem a um “ambiente de alojamento para mais de uma porca onde, após confirmação da gravidez, elas têm a capacidade de se deitar, levantar sem impedimentos e de se virar”, explica a Associação Americana de Veterinários Suínos.
O McDonald´s comprometeu-se ainda a obter “85% a 90% de seus volumes de carne suína nos EUA de porcas não alojadas em gaiolas de gestação” até ao final de 2022, com a esperança de, até 2024 conseguir que “100% de sua carne suína nos EUA venha de porcas alojadas em grupos durante a gravidez”. Atualmente, e de acordo com o site oficial da empresa, 60% da sua cadeia de fornecimento de carne suína não recorre a gaiolas para gestação de porcas grávidas.
Icanh terá pedido, de acordo com o comunicado, “prazos específicos” para que a empresa deixe de recorrer a fornecedores que usam gaiolas de gestação. Uma exigência que a cadeia de fast-food considerou “impossível” tendo em conta “o atual fornecimento de carne suína nos EUA” e que poderia, inclusive, prejudicar o compromisso em fornecer aos clientes “produtos de alta qualidade a preços acessíveis”.
As reclamações do acionista não vão, segundo a empresa, de encontro aos seus restantes investimentos, nomeadamente tendo em conta que este é “proprietário majoritário da Viskase, empresa que produz e fornece embalagens para a indústria de suínos e aves” e que, apesar da sua posição “não pediu publicamente a Viskase para adotar compromissos semelhantes aos do McDonald’s de 2012”.
Em Portugal a carne da multinacional é fornecida pela empresa OSI Food Solutions (OSI) que conta com a colaboração de alguns fornecedores portugueses. Em 2019, a empresa recebeu o Prémio de Sustentabilidade da Associação da Indústria de Carne de Espanha.
“A OSI implementou um contrato de compromisso de sustentabilidade em todas as suas plantas europeias em 2014, e este contrato deve ser assinado e mantidos por cada gerente de fábrica a cada doze meses. O contrato define objetivos que cada uma das áreas de sustentabilidade deve abranger: eficiência energética, eficiência no consumo de água e gestão de resíduos, treino e desenvolvimento, compromisso com a comunidade, segurança e saúde, bem-estar animal e auditoria ao fornecedor”, escreveu a fornecedora aquando do prémio de 2019.