A 26 de maio, o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, foi ao Parlamento do seu país fazer um anúncio solene: “A vosso pedido, nós acabámos com as drogas e os migrantes. Agora vão ter de os apanhar e de levar com eles.” O homem habitualmente descrito como o último ditador da Europa dirigia-se então aos governos da União Europeia (UE), com o objetivo de avisar que as fronteiras bielorrussas iriam escancarar-se aos fluxos migratórios com destino ao espaço comunitário. A medida era apenas mais um episódio da crise iniciada no verão do ano anterior, com as presidenciais em que Lukashenko se fez reeleger para um novo mandato até 2025 – e a UE a não reconhecer os resultados, por entender que as eleições não foram livres nem justas.
Quatro dias antes do seu famoso discurso parlamentar (domingo, 23 de maio), o governante bielorrusso tinha sido notícia em todo o mundo por outra razão: o desvio de um avião da Ryanair que fazia a ligação entre Atenas (na Grécia) e Vilnius (na Lituânia). O aparelho foi forçado a aterrar em Minsk, a capital bielorrussa, por caças militares, supostamente devido a uma ameaça de bomba a bordo. A realidade demonstrou que se tratava de algo muito diferente – sequestrar e silenciar um dos inimigos de estimação de Lukashenko: Roman Protasevich, o dissidente e ativista que era também diretor do Nexta, canal noticioso alojado no Telegram e no YouTube a que a maior parte da população bielorrussa recorre como alternativa aos mídia estatais.