Teerão abandonou progressivamente os principais compromissos assumidos no âmbito deste acordo concluído com as grandes potências, um ano após a saída unilateral, em 2018, dos Estados Unidos, a que se seguiu a reposição das sanções norte-americanas.
“Ultrapassámos os 210 quilos de urânio enriquecido a 20% e produzimos 25 quilos a 60% (…)”, declarou hoje o porta-voz da Organização Iraniana da Energia Atómica (OIEA), Behruz Kamalvandi, citado pela agência oficial Irna.
Em abril, a República Islâmica do Irão anunciou ter ultrapassado o limiar inédito de enriquecimento de urânio a 60% e, em abril, a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) indicou que o país tinha produzido 10 quilos dele.
Um mês depois, a 10 de outubro, Mohammad Eslami, diretor da OIEA, revelou que o ‘stock’ de urânio enriquecido a 20% tinha ultrapassado os 120 quilos, uma quantidade que lhe permite, em teoria, produzir isótopos médicos, utilizados nomeadamente no diagnóstico de alguns tipos de cancro.
Para fazer uma bomba nuclear, o urânio deve ser enriquecido a 90%, o que o Irão não conseguiu ainda fazer, mas os países ocidentais estão alarmados com os rápidos progressos do país nesta área.
Teerão afirma há décadas que o seu programa nuclear é pacífico e que não pretende construir armas nucleares.
As negociações para salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, suspensas desde junho, devem ser retomadas a 29 de novembro em Viena, num contexto de tensões aumentadas entre os Estados Unidos e o Irão.
As conversações incidirão “sobre a perspetiva de um eventual regresso dos Estados Unidos” ao pacto e “sobre a forma de garantir a aplicação completa e efetiva do acordo por todas as partes”, segundo a União Europeia.
O Presidente iraniano, Ebrahim Raissi, alertou hoje que Teerão rejeitará qualquer “exigência excessiva” do Ocidente durante as negociações sobre o acordo nuclear.
“Não deixaremos a mesa de negociações, mas iremos opor-nos a exigências excessivas que possam prejudicar os interesses do povo iraniano”, disse Raissi durante uma cerimónia em Semnan, a leste da capital iraniana, por ocasião do 42.º aniversário da invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerão, segundo um comunicado da Presidência iraniana.
“Não recuaremos de forma alguma nos interesses do povo iraniano, continuaremos os esforços para neutralizar (os efeitos) das sanções opressivas e agiremos para o seu levantamento”, afirmou Raissi.
ANC (CSR) // PDF