As cheias que provocaram, até ao momento, mais de 170 mortes na Alemanha e 30 na Bélgica, além dos diversos danos causados, como cortes de eletricidade e falhas nas redes de comunicação que terão impedido que as pessoas recebessem os alertas a tempo, mostraram que as comunidades não estavam preparadas para lidar com o impacto desta catástrofe.
O Serviço de Gestão de Emergências do Copernicus (Copernicus Emergency Management Service) da Europa disse ter enviado mais de 25 alertas para regiões específicas das bacias dos rios Reno e Maas, nos dias que antecederam as cheias, através do seu Sistema Europeu de Alerta para Inundações (EFAS), muito antes das fortes chuvas desencadearem as cheias repentinas.
No entanto, poucos destes primeiros avisos foram passados aos residentes a tempo, apanhando as comunidades completamente desprevenidas. Jeff Da Costa, investigador de Hidrometeorologia na Universidade de Letras no Reino Unido, sublinhou, citado pela CNN, que “houve claramente uma falha grave na comunicação, que em alguns casos custou tragicamente a vida das pessoas”.
Baseando a sua investigação nos sistemas de aviso das cheias e na inundação que ocorreu na casa dos seus pais, no Luxemburgo, durante o fim-de-semana passado, Da Costa realçou que os resultados mostram que existe, frequentemente, uma lacuna entre a emissão de avisos meteorológicos por parte dos cientistas e as ações realmente levadas a cabo pelos responsáveis no terreno.
Alguns dos avisos – inclusive no Luxemburgo – só foram emitidos depois da inundação ter ocorrido, afirmou o investigador. “As pessoas, incluindo a minha própria família, foram deixadas à sua sorte sem qualquer indicação sobre o que fazer, e não lhes foi dada qualquer oportunidade de se prepararem”, referiu.
No entantom, em muitos locais gravemente afetados, como é o caso da Alemanha, houve locais – Vale do Ahr (Alemanha Ocidental) – em que os avisos foram dados mais cedo, antes da catástrofe, mas muitos residentes não os levaram a sério por não ser uma situação comum.
Em Schuld, cidade montanhosa de Eifel, na Alemanha, e uma das mais afetadas pelas cheias, a inundação era, por outro lado, imprevisível. Segundo o presidente da câmara da localidade, Helmut Lussi, “os sistemas de proteção contra as cheias não teriam ajudado porque não se pode calcular isto – o que podia acontecer ao rio Ahr com massas de água tão grandes”.
Da Costa realça que neste tipo de localidades devia haver um maior cuidado na previsibilidade de cheias com planos para as famílias, empresas e instituições em cenários deste género, devido ao risco ambiental inerente. Na sua opinião, à medida que os eventos climáticos extremos se tornam mais comuns devido às alterações climáticas, cidades como Schuld devem intensificar o seu planeamento e gestão para lidar com este tipo de situações, de forma a evitar uma catástrofe tão grande.
“As pessoas devem também ter em mente que, embora os avisos de inundações não possam impedir uma inundação, podem ajudar as pessoas a mudar-se para outro local mais seguro”, acrescentou o investigador.
Também na Bélgica houve problemas de comunicação e organização. Em Chaudfontaine – cidade em Liège – o presidente da câmara disse ter recebido um “alerta laranja”, avisando-o da subida das águas, mas argumentou que deveria ter sido vermelho mais cedo.
Países Baixos estavam preparados
Um cenário completamente diferente foi visível nos Países Baixos, onde também ocorreram chuvas intensas. Embora não tão fortes, a verdade é que nenhuma pessoa morreu devido à melhor preparação da população para este tipo de situações.
A Holanda, que todos os anos luta contra os perigos das enchentes dos rios – Reno, Meuse e Scheldt – e tem grande parte das suas terras abaixo do nível do mar, já está preparada para o risco de inundações a qualquer momento. Quando a população recebeu o alerta, seguiu o plano de imediato.
Neste país, com uma infraestrutura de gestão de águas entre as melhores do mundo, a força reside, em grande parte, na organização. “Além do governo nacional, das províncias, e das cidades, temos uma quarta camada, as “water boards”, que estão inteiramente concentradas na gestão da água”, referiu o Professor Jeroen Aerts, chefe do departamento de Água e Risco Climático da Vrije Universiteit, em Amesterdão.
Embora os Países Baixos já consigam identificar melhor este tipo de catástrofes e ter uma população preparada para agir nestas situações, a verdade é que isso fez com que o país evitasse um cenário pior, podendo oferecer ao mundo um plano sobre como lidar com as inundações, especialmente porque se espera que as alterações climáticas tornem mais comuns as ocorrências de chuvas extremas.
Além da Alemanha, Bélgica e Países Baixos, as fortes chuvas e as consequentes cheias também causaram graves danos em França, Luxemburgo, Suíça, Itália e Áustria.