As fotografias de agentes da Guardia Civil a salvarem crianças de morrer afogadas, junto à praia que faz fronteira entre Marrocos e Espanha, esta terça-feira, impressionam. E, no entanto, o vice-presidente da Comissão Europeia, o grego Margaritis Schinas, já veio dizer que a Europa “não se vai deixar intimidar por ninguém” nem “será vítima das táticas” de Rabat.
Em plena crise migratória entre Espanha e Marrocos, e face à entrada recente de milhares de pessoas na região autónoma espanhola de Ceuta, no Norte de África, é esta a resposta da Comissão Europeia.
O que estará agora a pensar Juan Francisco, o agente do Grupo Especial de Atividades Subaquáticas (GEAS) da Guardia Civil em Ceuta, que, esta terça-feira, salvou de morrer afogado um bebé de apenas dois meses, na praia El Tarajal, que faz fronteira entre Marrocos e Espanha?
A sua imagem foi difundida na conta de Twitter da própria Guardia Civil, que assim reconhece o trabalho dos efetivos na zona, face à chegada massiva de migrantes provenientes de Marrocos. “Muy Grandes. Guardias civiles del GEAS y la ARS [Agrupação de Reserva e Segurança] salvan la vida de decenas de menores que llegaban a Ceuta por mar junto a sus familias”, lê-se no tweet em que também se veem outros dois agentes a resgatar duas meninas e a entregar uma delas a uma voluntária da Cruz Vermelha.
É impossível ficar indiferente a estas fotografias que são uma gota de água da vaga de migrantes – mais de seis mil, grande parte menores – que cruzaram a nado a fronteira ao longo da última terça-feira. Um recorde, segundo o Ministério do Interior espanhol, que confirmou a recondução para território marroquino de cerca de metade dos cerca de oito mil que chegaram desde segunda-feira.
Esta quarta-feira, a situação na fronteira entre Ceuta e Marrocos já estava mais “tranquila”. De acordo com a delegação do Governo de Espanha em Ceuta, apenas algumas dezenas de pessoas tentaram chegar a nado ao lado espanhol. Foram recolhidas no mar por agentes da Guardia Civil que as levaram até à praia e as acompanharam até ao lado marroquino.
A tragédia do Tarajal
A praia El Tarajal é uma zona de costa que se encontra dentro da cidade de Ceuta, mesmo ao lado da alfândega também chamada El Tarajal. Sendo uma das fronteiras entre Espanha e Marrocos, é conhecida pela chegada de imigrantes ilegais, à imagem da vedação em Melilla.
A 6 de fevereiro de 2014, quinze imigrantes morreram afogados ao tentar atravessar esta fronteira a nado, enquanto eram repelidos pela Guardia Civil, um acontecimento que ficou conhecido como “A tragédia do Tarajal”.
Essas quinze vítimas faziam parte de um grupo de 200 a 300 subsarianos que nadavam rumo à costa espanhola, quando agentes da Guarda Civil dispararam balas de borracha e bombas de fumo, com o objetivo de os dispersar e dissuadir. Apenas 23 das centenas de imigrantes conseguiram chegar à praia, tendo sido imediatamente entregues às autoridades marroquinas.
As fotografias de agentes da Guardia Civil a salvar crianças de morrer afogadas ainda impressionam mais quando sabemos o que já aconteceu naquela praia.