A campanha, realizada de forma ‘pro bono’ (não remunerada) e que comporta várias iniciativas, incluindo vídeos com os porta-vozes e uma música, quer “fazer pressão” e mostrar o descontentamento face às violações dos direitos humanos no norte de Moçambique.
“Nós, sociedade civil, temos um papel muito determinante, na medida em que podemos fazer ‘advocacy’, podemos fazer pressão, podemos juntar-nos todos e todas e mostrar o nosso descontentamento em relação às violações constantes dos direitos humanos”, explicou à Lusa a apresentadora portuguesa Catarina Furtado, uma das porta-vozes da campanha.
“Há milhares de pessoas a serem maltratadas, mulheres a serem decapitadas. É um horror, e esses relatos são reais”, acrescentou a embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População.
Catarina Furtado justificou a sua participação na campanha, assinalando que não era possível ignorar o conflito no norte de Moçambique.
“Não podemos ignorar. Eu não conseguia dormir bem se não estivesse envolvida em algo que pudesse apenas atenuar, mas que servisse para nos juntar em prol desta causa”, referiu, assinalando que “mais uma vez as mulheres e crianças são as maiores vítimas”.
Além da sensibilização, a campanha consagra também a recolha de donativos, destinados ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Cáritas e a Oikos, a atuar no terreno.
Catarina Furtado explicou que o envolvimento destas passou por serem organizações que “podem de alguma forma serem transversais na sua ajuda” devido às suas áreas de atuação.
“Achámos por bem que deveríamos convocar a sociedade a poder apoiar financeiramente com donativos, porque, na verdade, aqueles que são os relatos que eu tenho dos técnicos no terreno é que falta muita coisa, muita coisa, porque de facto aquela zona está muito abandonada, até do ponto de vista do próprio país e do próprio Governo”, lamentou a apresentadora.
“É puxar por cada um de nós e por todos, pelo exercício da nossa cidadania”, sublinhou, reiterando que “são violações dos direitos humanos”.
Catarina Furtado lamentou ainda que, na sua opinião, não tenha havido, desde o início, acesso a informações sobre o conflito.
“O que me parece é que nós, comunidade internacional, também pela não vontade do próprio país, Moçambique, não fomos tendo — esta é a minha visão — as informações que deveríamos ter tido logo desde o início”, disse.
Numa nota enviada à comunicação social, Pedro Vaz Marques, um dos mentores da campanha, defendeu ser “fundamental que todos os portugueses se envolvam e participem nesta campanha, nas redes sociais e nas várias plataformas onde será divulgada, para ajudar um povo irmão que está em sofrimento”.
O manifesto “Por_Moçambique” apela para que “a população civil de Cabo Delgado seja protegida contra os atos de barbaridade a que têm sido sujeitas”, para que “a agressão contra Moçambique termine e que a integridade das fronteiras territoriais de Moçambique seja respeitada” e para que “se mobilizem apoios para que estas populações possam regressar em paz às suas terras”.
A campanha está disponível no portal http://pormocambique.pt, assim como os números de identificação bancária (NIB) das organizações envolvidas e o hino da iniciativa.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.
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