A próxima segunda-feira pode ser um dia decisivo para o desentupimento do Canal do Suez e, consequentemente, do comércio mundial, já que se prevê que o nível da água do canal aumente para cerca de 0,5 metros, disseram especialistas ao New York Times. De acordo com a companhia japonesa proprietária do Ever Given, Evergreen Marine, que esta sexta-feira pediu desculpa pelos problemas que a situação tem estado a provocar, estão no local vários rebocadores e dragas, que têm retirado grandes quantidades de areia e lama junto da proa do navio, aproveitando os movimentos favoráveis das marés. Retirar alguns contentores continua, também, a ser uma possibilidade, apesar da dificuldade – e do tempo – da operação. O objetivo é conseguir colocar o porta-contentores novamente a flutuar, o mais depressa possível.
Desde terça-feira que o Ever Given, o gigante dos oceanos com capacidade para 22 mil contentores marítimos, está encalhado na parte mais estreita do Canal, depois de ter sido fustigado por uma tempestade de areia e rajadas fortes de vento e de se ter atravessado a meio da passagem entre o Médio Oriente e a Europa, bloqueando o tráfego de mais de 300 navios. O Ever Given saiu da China e tinha como destino o Porto de Roterdão, na Holanda.
Esta sexta-feira, o jornal britânico Lloyd’s List informou que o bloqueio deste canal, ponto de passagem de 12% do comércio mundial e de metade do petróleo consumido no mundo, está a provocar uma retenção de mercadorias avaliada em 9600 milhões de dólares diários, o equivalente a 8100 milhões de euros. A mesma publicação calculou que o tráfego até ao ocidente através do Canal do Suez tem um valor diário de 5100 milhões de dólares (4322 milhões de euros), enquanto em direção a oriente está avaliado em 4500 milhões de dólares (3800 milhões de euros).
Já este sábado, o presidente da Autoridade do Canal do Suez, Osama Rabie, referiu não poder dizer quando o canal marítimo será desbloqueado, afirmando, ainda, que as rajadas de vento não foram a principal razão para que a embarcação tenha encalhado. “Fortes rajadas de vento e fatores meteorológicos não são as únicas razões principais para o encalhe do navio. Outros erros, humanos ou técnicos, também podem ter acontecido”, assegurou.
Algumas importantes companhias de navegação, que costumam usar aquela rota, optaram já pela rota alternativa, que implica contornar o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, possibilidade que tinha sido já reconhecida por Lars Jensen à Associated Press, diretor executivo da SeaIntelligence Consulting, empresa especializada no transporte marítimo de contentores, com sede na Dinamarca. Trata-se de uma opção que atrasa a viagem em cerca de duas semanas – o que justifica por que razão se têm acumulado tantos navios, a contar que o imbróglio se resolva rapidamente.