Voaram centenas de milhões de quilómetros pelo espaço desde o verão passado, durante uma janela de lançamento que ocorre apenas a cada dois anos, e agora há três exploradores robóticos prestes a pisar Marte. Na frente, vai o rover dos Emirados Árabes Unidos, conhecido por Al-Amal (Esperança, em árabe), que fez esta terça-feira, 9, a descida para a órbita do planeta vermelho. Mas em menos de 24 horas, deverá estar acompanhado da Tianwen-1 (ou qualquer coisa como ‘Busca pela Verdade Celestial’). Na corrida está ainda o Perseverance, lançado pelos EUA, que faz conta de chegar ao local uma semana depois. Um trio de eventos extraordinários em simultâneo que promete fazer de fevereiro o mês por excelência do planeta vermelho.
Mas apesar da hora de ponta anunciada, não se esperam propriamente congestionamentos. Ou seja, a Al-Amal procurará uma órbita especialmente alta – entre os 22 mil e os 44 mil quilómetros – para melhor monitorizar o clima marciano. Já a missão chinesa deverá permanecer mais abaixo até maio, momento previsto para o rover acoplado se separar da sonda e descer à superfície. Por sua vez, o americano ‘Perseverance’ mergulhará imediatamente no solo marciano, à semelhança do que aconteceu em 2012 com o ‘Curiosity’.
Momento histórico
Em primeiro lugar, segue então a missão dos EAU a Marte, que lançou a sua sonda em 20 de julho de 2020, a partir do Centro Espacial Tanegashima, no Japão. Trata-se da primeira missão interplanetária árabe e o seu objetivo é fornecer aos cientistas uma imagem completa da atmosfera marciana. E esta terça-feira, 9, a Al-Amal deu, então, início àquilo que se chama uma inserção na órbita de Marte.
Prevista para o início da tarde, a descida durou cerca de meia hora, uns “27 minutos bastante perturbadores”, nas palavras de um porta-voz da missão dos emirados. Foi uma operação totalmente autónoma, porém “a mais perigosa da missão”, assumiu ainda aquele responsável, citado pelas agências internacionais, depois de lembrar que a sonda tem seis propulsores que fornecerão 650 newtons de potência e que “disparar os propulsores durante tanto tempo pode expor a nave espacial a muito stress, desde vibrações até ao calor”.
“Ao povo dos EAU, às nações árabes e muçulmanas, anunciamos a chegada bem sucedida à órbita de Marte. Louvado seja Deus”, disse, depois, Omran Sharaf, o chefe de projecto da missão, num momento considerado histórico: o programa espacial dos EAU torna-se assim o quinto no mundo a alcançar o Planeta Vermelho – depois da União Soviética, EUA, Índia e ESA, a sigla da agência espacial europeia. “A equipa preparou-se o melhor possível”, sublinhou, entretanto, Sarah Al Amiri, a presidente da agência espacial dos Emirados, revelando que a equipa espera disponibilizar os primeiros dados à comunidade científica até ao início de setembro.
Segundo lugar: Tianwen-1
A um dia de viagem do mesmo feito está a Tianwen, a primeira missão independente da China a Marte, lançada três dias depois da Al-Amal, a partir do Centro de Lançamento Espacial Wenchang, na província de Hainan. A nave deverá estar também a desacelerar a sua velocidade até ao ponto em que se considera que pode ser capturada pela órbita de Marte.
Tal como a missão dos EAU, a sonda Tianwen-1 fará igualmente o levantamento da atmosfera marciana. Mas a parte principal da sua missão está agendada para maio, momento em que deve ser possível fazer pousar um Rover na parte sul do planeta vermelho – na chamada planície Utopia, onde também assentou a Viking 2, da NASA, em 1976, que operou na superfície de Marte até abril de 1980, quando ficou sem baterias.
No total, os dois orbitadores do programa Viking produziram 52 663 imagens de Marte e mapearam aproximadamente 97% da sua superfície. Agora, China quer que o Tianwen-1 seja um primeiro passo para futuras missões que consigam voltar à Terra com amostras de rocha e solo marciano.
E por fim, Perseverança
No encalce daquelas duas missões, está ainda o último empreendimento espacial dos EUA a Marte, que envolve um helicóptero chamado Ingenuity e um novo rover chamado Perseverance, que deverá pousar no dia 18 num local chamado Jezero Crater, a conhecida cratera que outrora esteve inundada por água.
Segundo os planos anunciados, descerá através da atmosfera marciana a uma velocidade de cerca de 20 mil quilómetros por hora. “Uma grande grua celeste fará depois baixar o rover até este ficar sobre as suas seis rodas”, precisa a NASA, agência espacial que já fez ‘aterrar’ uma série de rovers em Marte ao longo dos anos, mas nem por isso deixa de considerar que “aterrar em Marte é sempre difícil”.
Descrevendo o Perseverança como um “astrobiólogo robótico”, por ser o maior e mais sofisticado alguma vez enviado à superfície do planeta vermelho, a NASA encarregou-o da mais ambiciosa missão: procurar sinais de antiga vida marciana. Mas não só: também testará tecnologias para a produção de oxigénio a partir da atmosfera marciana e espera-se ainda que prepare o terreno futuras missões humanas, tanto a Marte como à Lua. Porque o seu helicóptero será o primeiro a testar um voo noutro planeta, com uma atmosfera bem mais fina do que a da Terra.