Judeus, polacos, romenos, ciganos, soviéticos prisioneiros de guerra e prisioneiros de outras etnias. Sabe-se praticamente de cor a que nacionalidade, religião, etnia ou país pertenciam os 1,3 milhões de prisioneiros que foram levados para o campo de concentração (e mais tarde de extermínio) de Auschwitz-Birkenau entre 1942 e 1945. Todos os livros de História fazem questão de o assinalar e todas as escolas de o ensinar.
No mesmo sentido, é fácil encontrar a informação de que 90% dos que passaram pelos portões que apregoavam ‘Arbeit Macht Frei’ (o trabalho liberta) eram judias. E que desses 1,3 milhões, apenas 200 mil não morreram lá dentro. No dia em que as tropas da União Soviética chegaram finalmente a Auschwitz, “apenas 7 500 almas” foram encontradas com vida.
Os retratos que se vão sucedendo no agora Museu em que foi transformado o maior campo de concentração nazi, fazem-nos entender imediatamente por que a palavra ‘alma’ é a escolhida para falar daqueles que se conseguiram chegar ao dia mais ansiado desde que ali entraram.
Perfeitos esqueletos cobertos apenas de pele, despidos de carne, de músculos, de cabelo e de dignidade. Há apenas 76 anos, o mundo era confrontado, finalmente, com as provas do que vários responsáveis e populações em redor daquela região se recusaram sempre a acreditar: havia, no mundo, quem acreditasse na existência de uma raça superior e tivesse montado uma máquina de extermínio para matar todos os que não fizessem parte do seu plano.
Numa altura em que a Europa vê a extrema-direita a ganhar terreno, o Museu de Auschwitz Birkenau tem redobrado os esforços para atrair mais visitantes e para difundir a sua história. Reforçou a sua presença digital, e potenciou várias visitas virtuais aos campos durante os meses em que foi obrigado a encerrar devido à pandemia. A mensagem de cada guia que se encontra, de cada responsável com quem falamos é clara: quem conhece e visita Auschwitz, torna-se em parte responsável por não deixar morrer a memória da tragédia.
Países ocupados visitam mais
Nos últimos dez anos, mais de 17,5 milhões de pessoas visitaram os campos de Auschwitz e Birkenau. As visitas, realizadas no mais profundo silêncio, não tornam mais fácil entender o que ali aconteceu, tão pouco imaginar o cenário dantesco de que deverá ter sido palco. Mas, com a ajuda de documentos, exposições, retratos, recordações e relatos, a História torna-se mais clara.
Portugal tem estado, na última década, na lista das 30 nacionalidades que mais visitam o complexo construído pela máquina nazi. Em 2020 foram apenas 1 395 os portugueses que por lá passaram – o número compara com os 11 225 do ano anterior – mas continuam a ser dos que mais visitam o Memorial.
O primeiro lugar entre os países que mais presentes estão nestas visitas é ocupado, sem surpresas, pela Polónia – os polacos representam cerca de 30% do total dos visitantes. Os restantes lugares vão sendo disputados pelo Reino Unido, Israel, França, Itália ou Alemanha, que se mantêm consistentemente entre os que registam mais visitantes. De notar que são países que ou foram ocupados durante a II Guerra Mundial ou onde existem grandes comunidades judaicas.
Segundo os dados compilados pela VISÃO, desde 2010 que cerca de um milhão de pessoas passa, em média, pelo Museu Auschwitz-Birkenau. O ano de 2016 registou um pico significativo de visita, ligado às Jornadas Mundiais da Juventude, que aconteceram em Cracóvia nesse ano, e ao facto de o próprio Papa Francisco ter visitado o lugar. A visita, realizada totalmente em silêncio pelo Sumo Pontífice, tornou-se num dos momentos mais marcantes do seu pontificado.
No ano passado, em que se assinalaram os 75 anos de libertação do campo, houve espaço para uma cerimónia, no Museu, com a presença de alguns dos já muito poucos sobreviventes de Auschwitz, e esperava-se um aumento significativo de visitantes, que acabaria por ser travado pelas restrições impostas pela pandemia, lê-se nos relatórios publicados pelo próprio Memorial.
Apesar de ainda não ser claro quando Auschwitz poderá voltar a abrir as suas portas aos visitantes, a organização tem-se tentado manter ativa nas várias plataformas digitais para continuar a chegar a todos aqueles que pretendem conhecer um pouco mais da História do campo – ou para quem não quer deixar esquecer a História recente –, tendo mesmo disponibilizado, durante os últimos meses, dezenas de publicações que estão a sua posse, em formato digital.